Office in a Small City por Edward Hopper

Hecateu de Mileto

O homem que dividiu o mundo

Hecateu de Mileto

(Mileto, c. 546 a.C. – c. 476 a.C.)

Geógrafo, historiador e viajante grego, continuou a tradição racionalista de Tales, usando-a principalmente para descrever a superfície terrestre. De família aristocrática, parece ter passado a primeira parte da vida viajando pela Europa, pelo Egito e pelo Império Persa (que na época se chamava Ásia Menor), tendo reunido suas experiências em um livro – que não sobreviveu à viagem. Supõe-se que, nessas viagens, Hecateu tenha tomado consciência da verdadeira amplitude da Pré-História, quando os egípcios lhe mostraram documentos que remontavam a centenas de gerações anteriores. Ampliou o trabalho, começado por Anaximandro, de desenhar um mapa do mundo e dividiu a superfície terrestre em uma metade norte (Europa) e uma metade sul (Ásia), tomando como estrutura divisória a linha leste-oeste do mar Mediterrâneo e as montanhas do Cáucaso. Os dois continentes foram desenhados em forma de semicírculo e rodeados pelo oceano infinito (Oceanus, o oceano-rio). Mas, entre os povos da época, os gregos não eram grandes viajantes, a exemplo dos fenícios, que eram menos letrados e menos específicos. Hecateu racionalizou a história, assim como fez com a geografia, e redigiu o primeiro relato grego dos feitos e proezas daqueles que jamais aceitaram mitos ou deuses quando confrontados com os valores humanos. Adotou um ponto de vista cético e categoricamente desdenhoso quanto à tradição mítica. Sua historiografia não sobreviveu, e praticamente todas as informações disponíveis a seu respeito provêm de Diodoro da Sicília e de seu grande sucessor, Heródoto, duas gerações à frente, que deu continuidade ao seu trabalho e para quem ele constituiu fonte de importante inspiração. Hecateu é considerado um dos maiores prosadores que, a partir do século 6 a.C., escreveram crônicas que resgatavam a tradição oral, o que habitualmente se fazia sob a forma de versos. Tratava com desprezo as obras de seus antecessores e também de seus contemporâneos que, segundo ele, compunham narrativas contraditórias. Sua obra, Descrição da Terra, resumia os conhecimentos geográficos dos gregos da época, e sua Genealogias passava em revista os dados históricos compilados até então, corrigindo as imprecisões. A maior importância de Hecateu talvez tenha sido a de assimilar o clima de renovação cultural que se manifestava na Jônia e que fora iniciado com os primeiros filósofos. Adotando a perspectiva intelectual dos físicos e dos matemáticos, deu início a um processo de racionalização dos fatos históricos, o que preparou o caminho para Heródoto e Tucídides. Testemunhando o que viu e ouviu nas viagens, Hecateu procurou traçar a história das diferentes regiões, mas principalmente buscando separar o real do imaginário, com base no bom senso e na razão, algo que Plínio, o Velho, não se preocupou em fazer.

Hecateu foi também um hábil político, opondo-se à revolta da Jônia contra a Pérsia (500-494 a.C.). Para ele, a única maneira de derrotar a supremacia persa seria ter o controle dos mares através da construção de uma frota (que deveria ser construída com somas do tesouro do templo de Apolo). Os jônios não aceitaram o projeto, classificando-o como sacrílego. Ao fim da guerra, Mileto foi incendiada pelos persas, e Hecateu foi escolhido como delegado para negociar a paz. A revolta jônica foi duramente aplacada, e o prestígio científico das cidades gregas dessa região, conservado intacto ao longo de um século e meio, entrou em declínio.

Hecateu foi o primeiro a fazer uma referência aos celtas.

A obra de Heródoto sobreviveu, e com todo mérito, pois é uma das maiores de todos os tempos, tanto pela fina elegância estilística quanto por sua constante acuidade crítica. Heródoto é o primeiro historiador que se conhece, chamado o Pai da História, embora esse título coubesse melhor a Hecateu.

A Líbia (não o mesmo país que conhecemos hoje) tem esse nome desde os mapas de Hecateu de Mileto.

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(Não há imagens disponíveis de Hecateu de Mileto. Acima, a reprodução de um de seus mapas, com sua concepção da Terra.)

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