Office in a Small City por Edward Hopper

Demócrito

Todos os átomos – e mais nada

Demócrito

(Abdera, Trácia, costa norte do mar Egeu, 460 a.C. – 370 a.C.)

Filósofo por vezes considerado pré-socrático (mas Sócrates era seu contemporâneo), foi discípulo de Leucipo e o último pensador da natureza. Na verdade, o mais bem sucedido dos representantes gregos dessa tendência, graças à notável acuidade de suas ideias. Ele supunha, por exemplo, que a Via Láctea fosse um grande conglomerado de minúsculas estrelas. E que a formação do universo teria sido o resultado cego de uma intensa movimentação de átomos, podendo, posteriormente, ter formado novos mundos, o que, de maneira impressionante, antecipou o que se conhece hoje sobre as origens do espaço-tempo, com a diferença de que as modernas concepções da ciência são alicerçadas sobre a experimentação, enquanto as conclusões de Demócrito eram apenas intuitivas. Mas sua fama se deve ao fato de ele ter sido o maior expoente do atomismo. É difícil distinguir de suas ideias as de seu mestre Leucipo, mas tudo indica que foi Demócrito quem sistematizou a teoria atômica, segundo a qual tudo que existe é composto por elementos indivisíveis chamados átomos (que significa, em grego, sem partes), uma ideia bastante ousada para a época. Ele entendia que essas unidades não poderiam ser divididas em unidades ainda menores, porque, se assim fosse, a natureza acabaria por se desintegrar totalmente. Além disso, os átomos teriam de ser eternos, já que a matéria não pode surgir a partir do nada, e não poderiam ser iguais, pois, se todos os átomos fossem iguais, não poderiam se combinar para constituir seres tão diferentes, por exemplo, uma montanha ou um pássaro. Como não acreditava em nenhuma divindade que pudesse intervir nos processos naturais, deduzia que as únicas coisas que existiam eram os átomos e o vácuo. Assim, todas as coisas seriam constituídas por infinitos átomos de diversos formatos, que existem ao acaso e se chocam o tempo todo. Os átomos da água, por exemplo, seriam lisos e esféricos, para que ela pudesse fluir; os átomos do fogo seriam pontiagudos, por isso causavam a sensação de dor; os átomos da terra seriam ásperos e denteados, para que pudessem se encaixar melhor e formar substâncias duras, como uma rocha. Para Demócrito, o cosmo não é regido por um poder divino, mas sustenta-se por meio de um processo autocriador, no qual os átomos, atuando continuamente, aglomeram-se para constituir novas formas – ou desagregam-se, desfazendo outras. Muitos consideram Demócrito o pai da ciência moderna, embora o título seja frequentemente atribuído a Aristóteles, que conheceu e admirou sua obra. Em vida, foi praticamente ignorado em Atenas, pois os discípulos de Sócrates rejeitavam suas concepções, e poucos se dispunham a segui-lo. Demócrito escreveu cerca de 90 obras, das quais se destacam Pequena ordem do mundo, Do entendimento e Preceitos. Nenhuma delas sobreviveu. Tudo que se sabe sobre ele vem de citações e comentários de outros autores, tendo restado apenas fragmentos de suas teorias.

A teoria atômica de Demócrito estava quase perfeita. Hoje se sabe que os átomos podem ser divididos em partículas ainda menores: prótons, nêutrons e elétrons. Essas partículas, por sua vez, podem ser redivididas em outras, menores ainda. Mas os físicos são unânimes em considerar que, em algum momento, deve haver um limite para essas divisões.

Demócrito era também conhecido como “O filósofo risonho”, talvez porque sua filosofia fosse essencialmente jovial – ou porque costumasse mesmo rir dos desmandos da humanidade.

Tertuliano, um dos primeiros padres da Igreja, inventou a história de que Demócrito teria furado os próprios olhos para evitar o desejo sexual que as mulheres despertavam nele. Tais relatos difamatórios podem ter sido motivados pela aversão dos líderes cristãos aos filósofos com propostas científicas. Algo semelhante ocorreu com relação a Lucrécio, por meio dos relatos de São Jerônimo.

Leia mais sobre pensadores e artistas em Referências biográficas

Imagem: Demócrito na cédula de 100 dracmas (detalhe).

(Imagens de pessoas tão antigas não são confiáveis. Muitas vezes são representações de um tipo étnico, não correspondendo às feições reais do indivíduo retratado.)

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