Office in a Small City por Edward Hopper

Carteirinha escolar

O presente de estar vivo

Emblema do Estado, arco com dizeres da República. Meu nome com erros. Data de nascimento, cidade, sexo. Em preto e branco, o rosto apático de um garoto aos onze anos, olhos miúdos de míope mal disfarçando uma brecha de espanto, como se ainda, e tarde demais, o fato de haver sido lançado ao mundo o assombrasse melancolicamente. Nosso nome é apenas um código, geralmente adaptado à nossa própria língua, em determinado alfabeto, para possibilitar nossa identificação – nossos ancestrais remotos, por exemplo, não tinham nomes, não precisavam deles. Nossas feições nos tornam semelhantes a muitos outros, porque os genes produzem cópias irregulares de si mesmos. Somos todos estruturas repetidas, multiplicadas com variações, atravessando um tempo absurdo, que resiste a qualquer tentativa de retê-lo. Agora mesmo está nascendo alguém que se apaixonará no futuro. Alguém que pensará nas mesmas coisas outra vez. Alguém que, em algum momento, compreenderá que é um representante desse grupo de complexas personalidades. Essas estruturas que se repetem.

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