Office in a Small City por Edward Hopper

Correspondência

John Atkinson Grimshaw. Aportando no estuário. 18811
Chega uma carta
com vapores de além-mar
e bandeiras enigmáticas – dentro dela
e deste mundo,
outro mundo se constrói.
Claro envelope,
mensagem das sombras.
Dentro dele, tudo se resume: a terra
e seus escravos,
as despedidas nas estações,
os pássaros e o sangue, as pontes
com seus suicidas,
as manhãs, os sinos fúnebres,
teu tempo indecifrável,

o tempo inconfundível por onde outros passeiam

sem espanto.
2
Mas eu espero por uma carta
que me recorde sonhar com música
e baste para redimir o ter sido humano algum dia.
E espero que me conforte, confirmando-me
que não serei eterno,
livrando-me a alma do sempre viver.
Eu espero por uma carta
que me conte o esfriamento das estrelas
(a ordem cósmica do mais inocente esquecer),
que me traga a esperança em uma morte simples
e que se termine de ler com a sensação da autora.
 
3
Ainda uma palavra
a todos os que (como eu) são ninguém,
palavra
que por alcançar outros olhos
…………………………………………………………germine.
Banco envelope selado,
endereço completo no verso:
levarão ao destino
a mais pura mensagem de um homem?
 

Leia mais poemas e sobre poemas: Sol ancestral

O recurso da relva

Imagem: John Atkinson Grimshaw. Aportando no estuário. 1881. 

por

Publicado em

Categorias:

Comentários

2 respostas para “Correspondência”

  1. Avatar de Perce Polegatto

    Oi, Josie, que bom manter contato, feliz em reencontrá-la também.
    (O que a gente não encontra na rede hoje em dia, não é mesmo?)
    Abraços, me escreva sempre que quiser.

  2. Avatar de josefina neves mello

    Perce, eu estava procurando você e este poema maravilhoso! Estou muito feliz por haver encontrado os dois…

    abraço fraterno, Josefina

Comentar