Nenhuma escola literária o classificou – nem o Parnasianismo nem o Simbolismo. Seus primeiros poemas estavam próximos à obra de Cruz e Sousa, com aliterações e sonoridades, mas isso durou pouco. Um poeta único em nossa literatura, tendo como principal tema o enigma da existência e a morte, mas não só isso – seus versos revelam também uma intensa ansiedade ao tentar compreender a vida, como revelam trechos de seu “Poema negro”: “Para iludir minha desgraça, estudo. / Intimamente sei que não me iludo. […] A passagem dos séculos me assombra. / Para onde irá correndo minha sombra […]?” Como se não bastasse ser, por si só e pelo conteúdo de sua obra, um poeta absolutamente singular, ele ainda usava terminologia científica em seus versos, algo inédito e não imitado posteriormente. Publicou um único livro, apropriadamente chamado Eu, que resume o melhor do escreveu até os 28 anos. O Poeta da Morte, como é conhecido, faleceu aos 30 anos em razão de uma pneumonia, sem cura à época. (Talvez porque as mortes por tuberculose fossem muito associadas aos jovens poetas românticos, o que ele não era, muitos ainda pensam que ele teria sucumbido a essa doença.) Escolhi um de seus mais declamados poemas, um dos vários que mencionam o velho tamarindo que lhe serviu à infância e marcou fortemente sua memória. O tamarindo, ironicamente, ainda está lá, no Engenho do Pau d’Arco, na Paraíba, onde Augusto nasceu e compôs seus primeiros versos, aos sete anos de idade.
Debaixo do tamarindo
No tempo de meu Pai, sob estes galhos, Como uma vela fúnebre de cera, Chorei bilhões de vezes com a canseira De inexorabilíssimos trabalhos! Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos, Guarda, como uma caixa derradeira, O passado da Flora Brasileira E a paleontologia dos Carvalhos! Quando pararem todos os relógiosDe minha vida e a voz dos necrológios, Gritar nos noticiários que eu morri, Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade, A minha sombra há de ficar aqui!
Augusto dos Anjos, Eu e outras poesias.
Conheça este enigmático poeta romeno, sobrevivente do Holocausto.
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