Office in a Small City por Edward Hopper

Fitzgerald – Suave é a noite

f. scott fitzgerald

Ao lado de Ernest Hemingway, ele foi um dos primeiros autores modernos da literatura norte-americana. Eles trocaram a prosa do início do século 20 por um estilo mais direto, mais simples, sem enfeites, caracterizado por uma notável capacidade descritiva e estética própria da dinâmica dos efervescentes anos 1920. Conhecido por contos como “O curioso caso de Benjamin Button” e por coletâneas como Todos os jovens tristes, era principalmente apaixonado por romances. Fitzgerald já tinha sua obra-prima, O grande Gatsby, quando escreveu, com quase uma década de intervalo entre um e outro, seus dois últimos romances. Sua obra retrata fielmente os ambientes e personagens de seu tempo, particularmente das classes sociais mais altas. O sucesso editorial de alguns de seus livros garantiu a ele e a sua polêmica esposa, Zelda, um estilo de vida sofisticado entre as celebridades da época. Mas o dinheiro logo acabou, e o frenesi dessa vida agitada, o excesso de álcool e a tuberculose o levaram à morte, aos 44 anos. O trecho que segue integra um de seus últimos romances, cujo título e retirado de um poema de Keats.

Acompanhada por Nicole, Rosemary comprou dois vestidos e dois chapéus e quatro pares de sapato com o dinheiro. Nicole tinha uma lista de compras de duas páginas e, além disso, comprou o que estava nas vitrines. Tudo o que lhe agradou, mas que por algum motivo ela não poderia usar, levou de presente às suas amigas. Comprou contas coloridas, almofadas dobráveis de praia, flores artificiais, mel, uma cama de hóspedes, bolsas, cachecóis, pássaros do amor, bonequinhas em miniatura e três metros de um novo tecido cor de camarão. Comprou doze maiôs, um crocodilo de borracha, um tabuleiro de xadrez para viagem em ouro e marfim, lenços grandes de linho para Abe, duas jaquetas de camurça azul-turquesa e carmim da Hermès – comprou todas essas coisas sem nunca parecer uma cortesã da alta sociedade a comprar lingerie e joias, que afinal eram ferramentas de trabalho e garantias, mas com uma perspectiva muito diferente. Nicole era o produto de muita ingenuidade e trabalho duro. Por sua causa, trens começavam a marchar e atravessavam as curvas na barriga do continente até a Califórnia; fábricas de chicle fumegavam, e cintos de corrente cresciam, elo atrás de elo, em fábricas; homens misturavam pastas de dente em tinas e tiravam enxaguante bucal de tonéis de cobre; garotas enlatavam tomate às pressas em agosto ou trabalhavam feito loucas em lojas de quinquilharias na véspera de Natal; caboclos mourejavam em plantações de café no Brasil e sonhadores viam suas patentes de tratores novos serem arrancadas – essas eram algumas pessoas eu contribuíam com Nicole, enquanto todo o sistema sacudia e estrondejava, sempre à frente, o que conferia uma exuberância febril a atividades como compras em atacado, como o rubor no rosto de alguém em frente a um incêndio que se alastra.

F. Scott FitzgeraldSuave é a noite.

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