Office in a Small City por Edward Hopper

A realidade desafiando a ficção – o incrível caso de Steven Avery

Steven Avery
Steven Avery

O documentário em série, Making a murderer (algo como “construindo um assassino”), produzido pela Netflix, foi uma das matérias que mais me impressionaram ao longo dos últimos anos. Ele me lembra, de maneira desafiadora, que a realidade pode superar qualquer obra de ficção. Se algum autor tivesse inventado uma história assim, qualquer um de nós, em seu bom senso, diria: “Ei, que absurdo, que exagero. Não, não pode ser.” Mas é. E é por isso que me engajei nos comentários, nas petições, assinando, compartilhando, tentando trazer mais pessoas para conhecer o caso e, previsivelmente, indignar-se com ele.

O talento das realizadoras Laura Ricciardi e Moira Demos, que escreveram e dirigiram esse trabalho, nos conduz ao conhecimento do extraordinário processo do estado de Wisconsin contra Steven Avery de maneira fascinante, com a habilidade dos que dominam a difícil técnica da narrativa, pontuando o tempo cronológico e não cronológico, os depoimentos e as manifestações da imprensa, envolvendo o espectador de maneira irreversível no que parece ser, desde já, um caso histórico – como também se poderia dizer desse documentário, dada sua repercussão imediata a partir de seu lançamento, em dezembro de 2015.

Com isso, já chegaram petições ao presidente Barack Obama e ao governador Scott Walker, com centenas de milhares de assinaturas, além de uma atividade permanente de milhões de apoiadores de Steven Avery, clamando por sua liberdade e por uma investigação federal, isenta, que possa reiniciar o processo e identificar todas as responsabilidades.

Se ainda não viu, assista ao trailer:

 
Veja a série toda na Netflix, clicando aqui.
 
E se já viu, seguem as minhas impressões (Atenção: contém SPOILERS). Aqui, declaradamente, deixo minha visão sobre os verdadeiros vilões da história.
  1. O verdadeiro assassino, Ryan Hillegas, ex-namorado de Teresa. Ele não tem álibi para a hora do crime, apagou as últimas mensagens do celular dela (provavelmente marcando onde encontrar-se com ela ou algo similar, o que certamente o comprometeria). Ele é traiçoeiro, mentiroso e espertalhão, e conseguiu enganar facilmente Mike Halbach, irmão de Teresa, que é um bobalhão ingênuo, com o estado emocional vulnerável por causa da morte da irmã, unindo-se a ele nas equipes de busca. Ao ser interrogado sobre a hora aproximada em que viu Teresa viva pela última vez, Ryan respondeu que não, não saberia dizer a hora… aproximada (!). O advogado Jerry Butting perguntou então se, pelo menos, era manhã, tarde ou noite, e ele respondeu que… não se lembrava!
  2. James Lenk e Andrew Colborn, que planejaram e forjaram “provas” para incriminar Steven.
  3. O promotor Ken Kratz e outros “comprados”, que sabiam que Steven, solto, seria um problema, processando o estado e, com isso, trazendo à tona a atitude vergonhosa e corrupta das autoridades com relação a sua primeira condenação. Aliás, não posso nem ver a cara desse canalha que é Ken Kratz. Alguns anos depois do julgamento de Steven, ele foi desmascarado em um escândalo sexual, pois exigia de algumas mulheres, a quem estava defendendo, favores sexuais, entre ações coercitivas e ameaças. Fico indignado em pensar que homens desse tipo andam de terno e gravata, sendo advogados, homens da lei, respeitados aonde vão.
Richard Mahler
Richard Mahler

Participando desses grupos, tive a honra de receber uma solicitação de amizade no Facebook, vinda de alguém que eu tinha acabado de ver na tela, entre os últimos capítulos da série: Richard Mahler (Rick Ray), um dos jurados no julgamento de Steven Avery. É claro que eu aceitei. Fazemos parte do mesmo grupo que apoia Steven Avery, pedindo sua liberdade, por isso nos conectamos. Conversamos particularmente, por mensagens, na rede social, e estamos compartilhando notícias atualizadas sobre esse caso estarrecedor. Se você, leitor, acredita na Justiça (e principalmente se não acredita), não deixe de ver esse trabalho notável que é Making a murderer. Será que você consegue ficar indiferente depois disso?

por

Publicado em

Categorias:

,

Comentários

6 respostas para “A realidade desafiando a ficção – o incrível caso de Steven Avery”

  1. Avatar de jose luiz catelan c.

    Acho que o Ryan a localizou após uma briga ou ele a manipulou e descobriu aonde ela estava, destruiu seus rastros e deixou o carro dela no acostamento. Andrew Calborn viu sabendo que Avery foi o último a vê-la, ele e mais um levaram o carro no ferro velho, eles então fizeram a procura com os cães farejadores que a localizaram sem falar a ninguém, capturou os restos o achou o corpo e a queimou quilômetros de lá. Nisso, Scott Tadysch tinha falado sobre a fogueira que ele viu na residência dos Averys, então eles queimaram o cadáver e foram a casa dele. Nisso, eles entraram na casa dele, arrombaram o trailer dele,o irmão de Steven afirmou que viu luzes provavelmente Andrew Calborn, pois ele tem experiencia em arrombamentos e em manuseio de provas, ele então viu sangue dele lá, pegou com cotonetes especiais e saiu. Após isso, o senhor Kratz fez diversos crimes, como coagir algumas testemunhas, talvez, mas há provas de que ele negou-se de dar informações preciosas à defesa sobre o histórico de pesquisa de Bobby Dassey, entre outros crimes.

    1. Avatar de Perce Polegatto

      Olá, José Luiz. Concordo com todo o seu direcionamento da teoria. Tenho certeza de que esses três estão diretamente envolvidos, Ryan, Scott e Bobby. Ryan, o velho caso do ex-namorado que não aceita o rompimento, um cara violento, estranho, meio sinistro. (Apagou os últimos registros do celular dela, como seria possível, se não fosse ele o assassino?) Os outros podem ter visto aí a oportunidade de incriminar Steven, de quem tinham inveja, pois ele receberia uma grana com o processo contra o Estado, por causa de sua prisão anterior, e se juntaram a Ryan. Só um detalhe que acho que pode não ter sido: talvez o trailer ficasse meio aberto, nem precisasse ser arrombado. Naquele lugar, naquele contexto, a família toda morando junta, todos próximos, talvez nem ficasse trancada a porta do trailer. Talvez.

  2. Avatar de Perce Polegatto

    Concordo com você. A teoria sobre o Scott é boa, mas Ryan é muito, muito suspeito em tudo que diz, tudo que faz. Sobre o Scott, no máximo acho que ele e Bobby pretendiam estuprá-la, e as coisas podem ter saído do controle (o álibi deles é muito estranho também). Se eles a mataram, incineraram o corpo por motivos óbvios, para não deixar rastros. Com a ciência de hoje, deixar um corpo simplesmente abandonado em algum ugar é um passo para ser preso em seguida, haveria sinais dos assassinos.
    Um último palpite: algo em conjunto entre Ryan, Scott e Bobby. Já havia uma rixa forte contra Steven pela possibilidade de ele se tornar milionário com a indenização referente ao processo anterior. Ryan tinha um motivo, e eles poderiam ajudá-lo, tanto sumindo com o corpo quanto incriminando Steven. Isso explicaria os restos mortais no poço de incineração e no barril, algo que Ryan dificilmente conseguiria sozinho, entrando na propriedade deles. Pode ter sido um acordo. Por que não?

  3. Avatar de Mikaelle gulusian
    Mikaelle gulusian

    Nossa queria conversar com vc!!! Eu tenho certeza que foi o ex namorado, a partir do momento q ele apareceu na serie tudo pra mim fez sentido! Ele fez exatamente como 99% dos ex namorados/maridos fazem nos EUA, se vc assistir ID verá mil casos assim, o ex namorado liderando buscas, indo na casa da ex antes da policia e se aproximando da familia! Agora no caso dele é mto pior, ele proprio se entrega falando q descobriu a senha de acesso ao celular dela, oq nao entendo é que estavam questianando antes que alguem no dia 2 de novembro acessou o celular dela e apagou msgs, como nao concluiram que foi ele? Sendo q ele proprio assume ter a senha de acesso!??

    1. Avatar de Perce Polegatto

      Olá, Mikaelle. Pois é, observe com atenção o momento (se não me engano no episódio 3) em que algum jornalista pergunta a Ryan quantas vezes ele esteve no local antes. Ele hesita, fica nervoso, tenso, depois diz que nunca esteve lá, e Mike, o irmão de Teresa, dá uma resposta que ele, Ryan, repete rapidamente, como se estivesse aliviado com essa chance que Mike, inocentemente, lhe forneceu. Muito evasivo. Mas não que Mike tenha planejado isso. Ryan apenas se aproveitou da resposta dele, já estava quase gaguejando. E essa de apagar as últimas mensagens do celular foi mais do que suspeito, é obviamente incriminatório. E com certeza ele teria motivação para o crime, seja qual fosse, ciúmes obsessivos etc. Ryan deve ter deixado o carro no ferro-velho dos Avery, que, infelizmente, é aberto, qualquer um podia entrar lá, segundo disse o próprio Steven. Não sei ainda “costurar” outros detalhes, como a questão de os restos mortais terem sido deixados no pátio, no barril etc. Mas a teoria sobre Scott Tadysh, o cunhado, também é muito boa.
      Leia isto.
      http://www.brasilpost.com.br/2016/02/10/teoria-making-a-murderer_n_9202770.html

      1. Avatar de Mika gulusian
        Mika gulusian

        Acabei de ler sobre a teoria do scott!!! Ela é mto boa e super se enquadra! Mas nao conseguiria descartar completamente a historia do Ryan, pq se fosse por esse lado, nao faria sentido ele apagar as msgs do celular dela, isso é mto suspeito, eu tb acho que as ligações que ela recebia e não aguentava mais (como relatam os colegas de trabalho) seria dele, acho mto estranho ele ter ido a casa dela, antes dela morrer, ele ser próximo ao roommate dela, acho mto estranho ele ter encontrado o carro junto do irmão, sendo o ferro velho enorme, acho que duas frentes agiram contra o mesmo homem, mas acho q uma delas era o ex namorado, ele tem motivo, crimes assim ou são feitos por psicopatas ou são passionais, ele cortar em pedaços, isso é um clássico do crime passional, não vejo pq o scott e o bob fazerem isso por um motivo, acho mais plausível estuprar e estrangular e abandonar o corpo e ponto. Meu sexto sentido quase pulou da boca qdo vi o depoimento do ex, do ryan, acho q se fossem mulheres as advogadas no caso na época teriam sentido isso q senti e iriam formular uma teoria contra o Ryan.

Comentar