Office in a Small City por Edward Hopper

Categoria: Os últimos dias de agosto

  • Queijo, vinho e… “o disco novo dele”

    Queijo, vinho e… “o disco novo dele”

    Um ligeiro arrependimento de não ter sido um dia forte o bastante para lutar por Treze. E logo afastou esse pensamento também, chegando a achá-lo engraçado, até mesmo sem sentido, que coisa estranha é o amor. Este, o andar. Como um simples aviso pode me incomodar assim? Júlio comprimindo os lábios e girando a cabeça,…


  • Por sorte, algo sobre o sábado

    Por sorte, algo sobre o sábado

    Contava os dias da semana tentando fixar na memória as feições de seu rosto que, por escapar-lhe à nitidez no princípio, quase o fizera acreditar que não estivesse apaixonado. Vanda chegara no outono especialmente para contagiá-lo com a nebulosa impressão de que alguma coisa, afinal, começava a dar certo. Contava os dias da semana, tentando…


  • Foi bom ela não ter vindo

    Foi bom ela não ter vindo

    Eu tinha a impressão de que Vanda se parecia com Bruno. Era despreocupada e sensual. Para minha sorte, talvez, ele conhecera Lea primeiro, ela que também merecia sem muito esforço a atenção dos homens, outro estilo de fêmea… Meia hora andando em círculos no saguão de entrada. Os mesmos cartazes revistos dezenas de vezes causavam-lhe…


  • … e esquecer o resto

    … e esquecer o resto

    Ajude-me, se me distraio. Lembro-me de eu ter lhe perguntado as horas, ela disse apenas: “É mais tarde do que você imagina.”. Juntos até o fim da festa. Ninguém os incomodou, o que parecia incrível. Também não perceberam o avanço das horas. Assim são as festas. Não, a festa já não era a mesma. Uns…


  • Tudo porque eram as páginas de um homem

    Tudo porque eram as páginas de um homem

    Era apenas um homem. Mas era algo. Acreditava que o diário valesse por si só. Acreditava-se o que podia pensar, o que podia supor. Há algo de muito estranho em estar vivo. Haver vida. Tão desnecessário quanto não. Que mais você quer? Claro, nada a perder. A aventura está lançada, como qualquer moeda. E a…


  • Atrás de seu século, não existe nada

    Atrás de seu século, não existe nada

    Pressentia seu aspecto ruinoso, historiado talvez por lembranças cinzentas e esmagadoras. Parecia louco. E nunca o vira tão lúcido. Não as palavras. O olhar. Claro que me lembro. Tenho certeza. Foi a primeira vez que me defrontei com o que mais tarde chamaria minha loucura. Mas, entenda, não é uma crise avulsa, um mal-estar de…


  • Um e outro, dois lados da coisa

    Um e outro, dois lados da coisa

     Nem parecia a mesma da noite passada, a que lhe respondia movimentos ansiosos, transpirando impaciência. A placidez do sono, o casal lascivo. A inocência da morte. Os sintomas opressivos da crise iminente haviam implantado nele a impressão definitiva de ser, além de um homem, uma circunstância, uma peça provisória e frágil. Uma aparência insólita, efêmera.…


  • Girassol do mal

    Girassol do mal

    Demolido o bar de onde saíram, a própria cidade envelhecida de chuvas à margem de outra, num delírio surdo, mas vertiginoso, em que nada era ele. Disse que não falaria mais de Bruno, mas ele precisa voltar. “Júlio, eu estou dizendo: elas são umas taradinhas.” Ele não sabia de que mangas saíam as garotas que…


  • Um relógio, por exemplo

    Um relógio, por exemplo

    O tempo é a oxidação da realidade, o sol causticante ou a umidade nociva que contribui para a lenta dissolução das coisas. Se reencontro um objeto que me serviu na infância, entendo que é o único resquício, tudo que restou do que não há mais. Esse mesmo objeto toma forma em minhas mãos apenas no…


  • Por vezes, como uma canção de ninar

    Por vezes, como uma canção de ninar

    Voltaria outra manhã, que nunca é a mesma. O sempre das manhãs que voltam é que é sempre o mesmo. O que está acontecendo? Alguma coisa dá sinais de possuir-me, está presente. Não é apenas uma impressão. Mas não faço ideia do que seja. Quero crer que o cansaço tenha me alterado, quem sabe. O…


  • Para se pensar em crocodilos e borboletas

    As coisas da realidade mostravam-se sempre espantosas, ainda que alguém as visse todos os dias. Era preciso distrair-se delas, o que equivalia a vê-las todos os dias, para então assombrar-se, irresistivelmente. Água explodindo em sua cabeça, em seus ombros, o primeiro jato repentino antes que girasse de volta a torneira até adequar-se, e ao fluxo,…


  • Por quem o luto imprevisto?

    Por quem o luto imprevisto?

    Há um tempo para cada sentimento que se manifesta e que se dissipa. É preciso que seja assim. Trata-se da saúde emocional da humanidade. Vamos lá, você também deve ter tido uma experiência semelhante. E não? Tente recordar, registre-a. Era uma vez um gato xadrez… – começava assim uma velha cantiga, lembra? Você só quer…


  • Homens (não tão) fortes à procura

    Homens (não tão) fortes à procura

    Mas sim, voltava para incomodá-lo uma lembrança que podia jurar extraviada para sempre… Só depois de ter voltado pela quarta ou quinta vez aos mijadouros é que admitia estar perdendo o controle sobre sua lucidez. Enquanto urinava, tinha ânsias de vomitar, com o fedor morno daquelas latrinas. Paredes encardidas, riscadas à caneta ou a canivete.…


  • Já viu o prédio onde ela mora?

    Já viu o prédio onde ela mora?

    Os endereços são transitórios ou duram toda uma vida, o que muda é estar alguém vivo para habitar sempre um mesmo lugar. Mas Treze, de alguma forma, atraíra-se por ele, vira algo diferente nele, o que nem sempre alguém notava. Pensa enquanto anda, anda enquanto pensa, nunca lhe faltara a resignada consciência de que não…


  • Treze não era uma fada qualquer

    Treze não era uma fada qualquer

    Dessa vez teve vergonha de perguntar se ele vivera uma noite de sexo com ela. Mas mordia-se o lábio inferior, muito suavemente, com grande curiosidade. Não era bem uma carta, mas um bilhete. Foi bom ter conhecido você… E os momentos que passamos juntos… Por favor, não me procure mais… Aquele endereço que eu te…


  • Herói sem rumo

    Herói sem rumo

    Dentre as antigas aquarelas da memória e outros gestos de nuvens, tais são algumas das imagens que nunca se diluem. Coelho me havia feito recordá-las quando anunciou que os instrumentos se unissem. Eu as revejo sempre que quero retomar a esperança. “Corre, vai chamar todo mundo!”, ordenou-me o menino que comandava nosso time, com isso…


  • O centro em parte alguma

    O centro em parte alguma

    Meu inconsciente vê. Meus olhos são cegos. Sou muito pequeno para acreditar em alguma coisa. Não vejo. Não sei. E estou preso às correntes da vida, aos ciclos e ao tempo. “Pablo não apareceu hoje. Dona Norma não lhe perguntou nada?” “Não, senhor. Ela está preocupada?” “Um pouco, sim, senhor Júlio. Mas ele sempre volta.…


  • Fronteiras de fumaça, luzes insuficientes

    Fronteiras de fumaça, luzes insuficientes

    Os artistas se encontravam, ora irradiando alegrias, ora parecendo querer transmitir a todos um clima de sombria desesperança, como se numa determinada noite estivessem todos de acordo em considerar a vida um conjunto de melancólicas situações. Oásis. O outro bar. Música ao vivo. Cantor, violão, percussionista precariamente equipado: nem mais do que isso seria necessário…


  • Não apagou um agora mesmo?

    Não apagou um agora mesmo?

    Difícil reconhecer que tanto essas imagens soam exageradas quanto possíveis. Tanto quanto sua imaginação produz imagens sinistras, flui também, involuntariamente, a sequência que leva à aproximação daqueles rostos… Acende outro, não se importa com isso. Mas parece-lhe que o cigarro anterior se esfumou espaço fora sem que o percebesse. É preciso admitir. Não consegue evitar.…


  • Como cães farejadores

    Como cães farejadores

    As infâncias parecem não envelhecer nunca. Júlio repassa retratos antigos: ali estão seus pais, seus tios e primos de seus pais, todos ainda crianças, hoje essas crianças não existem, e aquele mundo que as cercava magicamente desapareceu. “Ei, moço!”, a mulher de rosto redondo e dentes irregulares, de sua barraca de bijuterias, a mais próxima,…


  • Treze descuida-se de um segredo

    Treze descuida-se de um segredo

    E como parecia desde o início acertado entre eles, com um mínimo de palavras e quase secretamente, seguiam em busca do lugar onde ficassem juntos, isolados dos que nada confessavam em diários íntimos. Dos que não se importavam com o registro. Dos que não precisavam saber… Alcançaram a larga avenida, de tráfego rápido e bem…


  • Treze pode continuar

    Treze pode continuar

    Depois do que Bruno lhe dissera, ou tentara lhe dizer, ele a examinava com redobrada curiosidade, como tendo à sua frente a encarnação de alguma dissimulada feiticeira ou de uma misteriosa criatura mítica, influenciado por uns adereços, colares e pulseiras étnicas. Ruas obscuras, postes de lâmpadas anêmicas… – não terá sido um artifício romântico demais…


  • Treze, uma abelha assassina?

    Treze, uma abelha assassina?

    “O que então? O que eu tenho a perder? Ela é algum tipo de maníaca, alguma abelha melífica, vai me assassinar depois de nos acasalarmos?” Bruno percebeu que ele já declinava a seus exemplos exagerados e obsessivos, próprios das situações em que não pretendia voltar atrás. “Você vai o quê?”, Bruno e seu cigarro pela…


  • Os três patetas sem violência

    Os três patetas sem violência

    Algumas latinhas nos puseram a pique. Dormimos com os cobertores trocados, nas posições mais incômodas que se pudessem conceber em uma barraca daquelas. Mais dois nomes, vá lá: Cândido e Clemente. Esses dois… Cada um deles, como dizem, uma flor de pessoa. Cândido Rosário Cruz e Clemente da Trindade. Identificavam-se comigo, porque também eu era…


  • Ana, Dulce, Treze, Cátia…

    Ana, Dulce, Treze, Cátia…

    Já perdia quase inteiramente a convicção, durante tanto tempo alimentada por seus colegas de estudo, de que era intelectualmente bem-dotado, o que eles confundiam com muito interessado. E suas perspectivas haviam declinado a um estranho silêncio. Ana. Em meio à minha incapacidade para romper o tédio, minha quase imobilidade completa, algo como se a inércia…


  • Um segredo, entre outros

    Um segredo, entre outros

    Sempre observara detalhes e minúcias, à maneira de um estrategista. Sempre tivera a impressão de estar sendo enganado. No intervalo de almoço, repassar sem compromisso as estantes de discos das lojas. Procurar um livro com a ajuda sensual de uma vendedora a quem aparentemente também corresponda algum interesse. Encontrar com grande prazer um objeto sob…


  • Coelho, uísque e gelo, sonatas de piano

    Coelho, uísque e gelo, sonatas de piano

    A música parecia esgotada. Bach e Mozart foram deuses. Crianças-prodígios, nasceram gênios. Beethoven foi muito maior. Ele era um homem. E tornou-se um deus. Pablo e Cândido os espreitavam, tão logo percebiam o ruído das chaves, o rápido rangido na porta de entrada. Mesmo habituados aos novos moradores, ainda lhes dispensavam uma discreta curiosidade, enquanto…


  • Agenda de não-planos

    Agenda de não-planos

    Talvez estivessem todos procurando voltar.Talvez não avançassem, como fazia supor a realidade. Talvez não viajassem ao futuro nem as agulhas apontassem o norte. Júlio questionava, embora não o agradasse, o que fazia ao lado de um tipo displicente como Bruno, dividindo com ele um determinado endereço. Fora isso, sacrificando cada dia pela continuidade de sua…


  • O número zero e as dez mil coisas

    O número zero e as dez mil coisas

    As conquistas humanas primeiro impressionam pelo desafio aos limites. Depois nos cansam como se tudo fosse apenas uma alegoria, uma amostra do que éramos capazes… Não sabe o que pensar? Ora, não é o fim de tudo. Conheci poetas que nos aconselhavam a não pensar, eles próprios passaram a vida pensando, pensando, pensando… Outros houve…


  • O meio-dia cinzento

    O meio-dia cinzento

    Sentia-se outro, a partir do nada. Fazia daquela chuva uma referência gratuita para ser agora e à frente, para tornar a viver, prosseguir sem qualquer passado. O meio-dia cinzento do intervalo de almoço trouxe a chuva de surpresa que os forçou, a Júlio e aos outros, aos cidadãos desse dia, ao refúgio sob toldos e…


  • A grande notícia trágica

    A grande notícia trágica

    Enquanto isso, uma conclusão se desdobrava em outra, entre tantos como ele ao redor e à luz dos olhos de cada um. E sempre essa viagem se repetia. E sempre havia gente nos vagões. DIRIJA-SE À PLATAFORMA OU ACESSO MAIS CONVENIENTE ORIENTANDO-SE PELAS PLACAS DE SINALIZAÇÃO. No metrô, também se comentava a notícia mais chocante…


  • Algo entre dois silêncios

    Algo entre dois silêncios

    Desde o começo, eu vinha tentando evitar que isto parecesse triste ou trágico, não sei. Tenho lido pouco, pouca coisa ou quase nada tem despertado minha atenção. Nessa mesma noite, ouviram um grito. Algum edifício próximo, quem sabe. Júlio acordou primeiro, foi à janela. Bruno praguejou, protegendo-se com o travesseiro, logo voltou a dormir. Um…


  • Bruno, o fantasma, e a medusa e…

    Bruno, o fantasma, e a medusa e…

    Toda juventude, todo desejo e sua respectiva consumação, todo encontro e encantamento, toda intimidade, experiência e êxtase estejam submetidos às mesmas leis de ausência que atravessam toda atualidade. Parece incrível. E é verdade. Bruno não tinha vinte anos quando deixou sua cidade. Uma de suas últimas aventuras quase acabou por envolvê-lo em sérios apuros, porque…


  • Adeus, Júlio Dias

    Adeus, Júlio Dias

    O tempo, em minha crença precária, era vinculado às distâncias e não tinha estas garras a arranhar-me os olhos. Estas unhas nervosas sobre o meu rosto. Choveu o dia todo em que eu parti. Como a servir de fronteira entre duas fases de minha vida, a chuva fina insistiu em molhar todas as estradas, sem…


  • Por sorte, tudo imperfeito

    Por sorte, tudo imperfeito

    Vertigem da lua alta que não inspira, ar insuficiente. Respostas talvez encontradas, outra vez perdidas no sempre de minha breve viagem. Tudo era antes, enquanto. Eu é que cheguei. Você também, claro. Entende agora quando digo vertigem? O cemitério abandonado, degraus em ruínas por sobre os quais passeia um luar sem cânticos. Sonho com lugares…


  • Pateta

    Pateta

    Abracei-me ao Pateta. Chorei por ele pela primeira vez. Compreendi que não havia chances para uma criatura tão inofensiva e sem forças. Aconteceu-me encontrá-lo por acaso, junto ao rio. Três garotos carregavam um saco que se mexia. Perguntei, e um deles afrouxou a abertura para que eu visse parte do dorso de um animal imundo…


  • Não são fotos como as outras. 3

    Não são fotos como as outras. 3

    Por toda parte, as coisas continuam acontecendo pela única vez. Pouco antes do fim da tarde, os inválidos vão desaparecendo, resguardando-se da noite. As calçadas ficam vazias, e ninguém mais precisa ter piedade. Ainda um guardião (com certa persistência ao longo de outros dias) Assim como os mendigos e os inválidos, o homem do realejo…


  • Não são fotos como as outras. 2

    Não são fotos como as outras. 2

    Afinal, todos nós nos consideramos especiais e eternos, só o tempo sabe que não o somos. Viver é difícil, velha novidade. E aqui estamos todos. Arautos do fim dos tempos O mulato de bigodinho grisalho, terno escuro, bem passado, agourento, discursa agitando a bíblia que reabre periodicamente, vociferando, entre aleluias, ameaças e pragas coletivas. Parece…


  • Não são fotos como as outras. 1

    Não são fotos como as outras. 1

    Sol e moedas brilham. Dia de intensa claridade. Nunca o bastante para atenuar-lhe a escuridão. Tome. Não são fotos como aparentam à primeira vista. Trago-as também em minha memória de palavras. Sei o que lhe ocorre, isso de um quadro e mil palavras, vá lá. Não, nunca foi assim. Se eu nada dissesse, você se…


  • Era ela, a minha maior inimiga

    Era ela, a minha maior inimiga

    O jogo maior deriva do plano inapreensível que os homens menosprezam e evitam, mas que os vencerá a todos: o tempo. E o tempo, queira ou não, tudo atravessa. Ao que interessa. Minha incontida necessidade de expressão decorre de minha tremenda dificuldade em compreender as coisas. Não só isso. Algumas vezes não se tem ainda…


  • Dona Norma e o último Coelho

    Dona Norma e o último Coelho

    São apenas histórias. Pouco importa sejam verdadeiras, o que vale é que sejam contadas e que alguém se identifique com elas. Nem isso, nem é preciso tanto. Como todos os que contam, também corro o risco de me perder. Houve da parte de Júlio um esforço diplomático para convencer dona Norma a aceitá-los como inquilinos,…


  • Quita, a estrela distorcida. Bruno, mal resgatado.

    Quita, a estrela distorcida. Bruno, mal resgatado.

    Com o tempo, nós nos perdemos de vista. Até nunca mais nos vermos. Eu sim, revi seu rosto em sonhos que me fizeram sofrer. Estela, desde o início, me lembrava Quita – a expressão de seus olhos atentos, ela que talvez fosse minha primeira namorada se de minha parte se houvesse consumado o beijo que…


  • Páginas claras, penumbra

    Páginas claras, penumbra

    Seus sentidos já pressentem o que há de vertigem sob esta superfície, e assim prossigo. Sei que contar não ajuda muito. Contar é já fazer esquecer. Ainda assim, preciso que me ouça. Você também provou de um veneno infalível, tornando-se desde então essa figura silenciosa, sobrevivente como eu. Duas vezes, diz. Em tudo está um…


  • Pedras, cometas, fichas alucinantes

    Pedras, cometas, fichas alucinantes

    A harmonia não pode durar muito, ela depende de sua própria desorganização para se reorganizar, como sempre. A simetria é oposta à vida, sim, foi o que você mesmo disse. O bar, você quer. Pista de dança no centro do retângulo. Longo balcão de impermeável, densamente estampado com estrelas, espirais, meias-luas e outros míseros sinaizinhos…


  • O nome dela era Vanda

    O nome dela era Vanda

    Após tê-la conhecido de perto, sentiu que se fazia, a corça, muito mais inalcançável, mais do que antes, quando não passava de uma sombra indefinida, e como se desde o primeiro momento ele desejasse, sem saber, alcançá-la. Ousadias avulsas. Resultado de superfície. Cansativos rituais de acasalamento. Mas no momento incerto, depois tornado certo, o desejo…


  • Assim são as festas

    Assim são as festas

    A desconhecida voltou à sala, acenou a uns amigos, o que fazia ver que não estava na festa até então. Especialmente abraçou outra garota. Perguntou por ela e por alguém mais, antes de iniciar o ritual de trocar beijos contados à altura da orelha ou estalados em falso, no ar, com uns rapazes que aparentemente…


  • Vanda vence a água e as nuvens

    Vanda vence a água e as nuvens

    Mal podia vê-la, a roupa que fosse, eu chegando ao apartamento, já a desejava com toda a saliva a sufocar-me a garganta, essa sensação inconfundível que precede e já desencadeia os estados de grande excitação, e isso me cegava, impedia-me considerá-la ainda como pessoa, mal tinha tempo de pensar em qualquer outra coisa caso ela…


  • Sonho 811. O livro que falta

    Sonho 811. O livro que falta

    A coleção consistia de quatro livros ilustrados, uma enciclopédia adaptada para adolescentes, com artigos sobre inúmeros assuntos. Com o tempo, algumas imagens desapareceram de suas páginas, e eu nunca mais as encontrei – um menino deitado sob uma groselheira, o rosto malvado de um corsário e uma jovem grega portando uma ânfora. Talvez eu as…


  • Nas escadas, mas não muito

    Nas escadas, mas não muito

    “Ora, Júlio, você é livre. Livre para tudo. Pois não vai o tempo dissolvê-lo como a todos, não é esse o jogo do futuro? Do que então podem ameaçá-lo?” “Não sei, Pablo. Ainda falta algo. Não compreendo. Ainda não. O que acha, Cândido?” “Vendo você aí, sentado nos degraus da escada, como se tudo estivesse…


  • Papéis com imagens, ossos para não esquecer

    Papéis com imagens, ossos para não esquecer

    Quinze anos. Violentada pelo cunhado. Perdera o filho de um mês. Sombras de família. Segredos, escândalos. Foto-grafada no pomar, sorri em meio às laranjas. Saudável, cati-vante, pernas e pés à mostra convidando a um ato brutal de volúpia. O sorriso, o pomar de laranjeiras. O que busca a natureza afinal? Momentos de violento desejo gerando…