Office in a Small City por Edward Hopper

Tezza – O filho eterno

Cristóvão Tezza

Um escritor experiente, que considero um dos melhores de nossa literatura contemporânea, ao lado de João Gilberto Noll e Milton Hatoum, mostrou aos leitores uma evolução admirável em sua carreira como romancista, tanto na qualidade como na escolha dos temas, mesmo tendo se iniciado com o excelente Trapo – que, durante alguns anos, ninguém quis publicar. Em seus últimos trabalhos, como Um erro emocional, nota-se o domínio completo da linguagem e das técnicas literárias, envolvendo o discurso indireto e múltiplos focos narrativos, tratando do antigo tema da aproximação de um casal entre “as ruínas muito vivas do velho mundo machista, respirando sob os escombros”. No romance O filho eterno, premiado internacionalmente, Cristovão Tezza nos surpreende com sua coragem em abordar um tema difícil, que geralmente aponta para a cilada do sentimentalismo, mas que ele magistralmente traz para a dimensão de uma realidade dura, mantendo seu compromisso de sempre dizer a verdade a si mesmo.

A criança estaria no berçário, uma espécie de gaiola asséptica, que o fez lembrar do Admirável mundo novo: todos aqueles bebês um ao lado do outro, atrás de uma proteção de vidro, etiquetados e cadastrados para a entrada no mundo, todos idênticos, enfaixados na mesma roupa verde, todos mais ou menos feios, todos amassados, sustos respirantes, todos imóveis, de uma fragilidade absurda, todos tábula rasa, cada um deles apenas um breve potencial, agora para sempre condenados ao Brasil, e à língua portuguesa, que lhes emprestaria as palavras com as quais, algum dia, eles tentariam dizer quem eram, afinal, e para que estavam aqui, se é que uma pergunta pode fazer sentido.

Cristovão TezzaO filho eterno.

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