Office in a Small City por Edward Hopper

Andersen – A pequena sereia

hans christian andersen

Um clássico entre tantos autores contemporâneos citados nesta seção. Conhecido por sua sensibilidade e ingenuidade, muitos de seus contos comoventes não poupam o leitor do final infeliz, como acontece nos célebres “O soldadinho de chumbo”, “A menina dos fósforos” e também em alguns menos conhecidos, como “O boneco de neve”, com o mesmo potencial de angústia. Andersen era um moralista e não perdoava desvios de conduta. Algumas vezes, a remissão é proporcionada pela aceitação da moral religiosa, como se dá com a jovem Karen de “Sapatinhos vermelhos”. Por isso, também, a sereiazinha é punida com a morte, ou algo mais dramático, porque afinal ela escolhe morrer, suicidando-se, assim, conscientemente. Seu pecado foi ter feito um acordo clandestino com a bruxa do mar, e o recado é claro: há um preço alto a pagar quando se trata de desobedecer à família. Mas a sereiazinha (que não tem nome no texto original), caçula de sete irmãs, a mais curiosa e a mais ousada, não resiste à tentação. O trecho relata o momento em que a jovem sereia chega aos domínios da bruxa do mar, com quem faz um pacto perigoso. E Andersen consegue pintar um quadro macabro quando quer: a adolescente aventureira encontra uma semelhante, uma como ela, morta e exposta à sua frente – uma outra pequena sereia. Movida pelos mesmos desejos. Interceptada, capturada no meio do caminho.

Passou por entre horríveis polvos, que estendiam os braços e os dedos flexíveis, para apanhá-la. Viu que cada um deles segurava uma coisa que conseguira agarrar, enlaçando-a com centenas de pequenos braços, como possantes anéis de ferro. Homens mortos no mar, caídos até aquelas profundezas, apareciam, em alvos esqueletos, nos braços dos polvos, que seguravam lemes de navios, caixas, ossadas de animais terrestres e, o que mais a aterrorizou, uma pequena sereia que haviam apanhado e sufocado.

Hans Christian AndersenA pequena sereia.

Leia mais sobre o conto: A sereia suicida

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