Descrição

“Constanza é a minha amiga imaginária. Mas é claro que ela existe. Não, não é nenhum fantasma ou coisa parecida. O que eu quis dizer (mas me expressei mal) é que ela provém de uma história imaginária, é isso. Por isso, também, ela é capaz de revisitar e atravessar com naturalidade todas as narrativas mágicas – porque escapou de uma, nunca saberei qual.”

Contundentes e imprevisíveis, os contos de formam esta coletânea definitivamente não configuram um todo conceitual, já que divergem nas temáticas e muitas vezes nas técnicas narrativas escolhidas.

O trecho citado abre o conto “Constanza”, sobre uma personagem invisível que acompanha o narrador com comentários e observações acerca do que ele está realizando, parte de seu trabalho intelectual. Ele imagina que ela estivesse sofrendo ou que teria um fim triste em sua própria história, já que não quer mais voltar para o livro de onde fugiu.

Contos aparentemente simples, como “A moeda de milhões”, contrapõem macro e microuniversos, eventos que servem a moldar e a transformar a história, em contraste com detalhes de vidas pessoais, que parecem insignificantes quando confrontadas com os dínamos que estruturam a realidade humana. Ou como no caso de “Inconsistência dos retratos”: o narrador não compreende como, ao voltar à cidade de seus parentes, que não visitava há muitos anos, parece vivenciar uma sutil ruptura no tempo, desafiando a razão e o estado de vigília.

Menos imaginativo e mais realista, “O inverno segundo teu semelhante” relata o drama que atormenta o hesitante personagem central, em estado de extrema dificuldade financeira, e seu dilema entre encaminhar ou não um donativo que acidentalmente lhe chegou às mãos, a um menino doente.

Considerando-se o envolvimento de certas pessoas com as tentações da leitura, leitores e leitoras poderiam redimir-se por participarem do “Clube dos corações literários do tenente Graciliano”, um grupo de apoio para viciados em literatura.