Descrição

Uma crise aos vinte e cinco anos. Algum tempo de imprevista e perigosa clarividência, uma situação oposta à confusão – por isso mesmo devastadora: o fato de passar a ver de outra maneira as motivações antes assimiladas como parte de sua origem, de sua cultura, de sua sociedade, assalta Júlio Dias em meio à rotina mais previsível.

A partir das anotações em um diário, vão se revelando uma personagem e uma história: “Uma vez registradas na combinação de tipos enigmáticos que são as palavras escritas, tais confissões passam a existir como um objeto. Passam a ser suas. E estão condenadas ao plano assustador da eternidade.”.
Júlio divide com seu amigo Bruno um aparta­mento na metrópole onde vivenciam noites de boêmia e mulheres que, de maneira superficial ou contundente, acabam atravessando suas vidas. Mas o que se faz sempre mais essencial e urgente para ele é encontrar as chaves que lhe esclareçam a decifração de seus próprios escritos, resultantes de um conflito pessoal, intenso mas silencioso, que tenta disfarçar aos outros, mas não a si mesmo, enquanto anota: “Meus sintomas de dissolução são silenciosos e só em mim produzem ruínas. De resto, era apenas um dia.”.

Esforçando-se para con­tinuar, acaba confessando a Estela parte de sua situação atual, que parece ­consumir-lhe as forças: “Coragem para atravessar um dia qualquer, sabe, sem chuva nem contratempos.”.
E Vanda, que o entretém com sua femilidade, o que poderia amenizar suas impres­sões pessimistas, sem sa­ber contribui para ­alimentar essa crise inesperada, da qual ele terá de se desvencilhar antes que seja tarde. Enquanto a observa na piscina, registra mental­mente o que lhe passa aquele momento, lembrando que a vida “… como o universo, é um acontecimento. Meu ser em trânsito, um processo. Vanda cruzando a piscina de nuvens. Era preciso livrar-me desses pensamentos, tão precários quanto óbvios…” e conclui que a “… esperança, no meu caso, consiste em permanecer vivo. E tentar compreender.”.