Office in a Small City por Edward Hopper

Categoria: Os últimos dias de agosto

  • Arca com retratos do pai. Parte 2

    Arca com retratos do pai. Parte 2

    Tudo em mim fica retido, antes de tudo. E fere ou fascina. O odor característico do papel plastificado, a tinta de impressão que até hoje reencontro em certos periódicos – eu começava a aprender dos textos, ao decifrá-los. O fascículo ilustrado com animais do Cretáceo, que ele me compra numa banca de esquina – também…


  • Arca com retratos do pai. Parte 1

    Arca com retratos do pai. Parte 1

    Tudo isso não passava de alucinação para mim – essa infância que ouvia dele, seus pais e avós, a quem mal ou não conheci. Só em minha fantasia podia vislumbrar os funerais dessa ancestral, quando iam todos a pé, trajando a indumentária da colônia e portando archotes no inverno. A vegetação do vale, os caminhos…


  • Treze pode acontecer

    Treze pode acontecer

    Júlio estranhou que seus cabelos, repartidos ao meio, descessem só até o pescoço e a nuca, não chegando a tocar os ombros, e assim mesmo caíssem frontalmente qual fossem mais longos do que aparentavam, como se não pertencessem a um mesmo corte, e pudessem prender-se atrás das orelhas. Que coisa observar isso tudo. Foi sem…


  • Suínos, símios, restaurante

    Suínos, símios, restaurante

    Três ou quatro restaurantes médios, cardápio variado e preços razoáveis, serviam de solução fácil às exigências de sua fome noturna, isso quando se animava a sair a pé pelo bairro, também por desejar romper com a tirania dos sanduíches que muitas vezes despedaçava sobre a cama ou à mesinha-estante-criado-mudo. Era preciso ao menos experimentar. Lembrar…


  • Café com neblina imprevista

    Café com neblina imprevista

    O caminho para o trabalho, os dias úteis, calendário. Supõe-se a agulha de um disco gigantesco, percorrendo as mesmas faixas conhecidas, o mundo à frente. Mesma rua, algumas quadras, quem diria. Quem diria? Estela: “Ora, somos vizinhos de serviço”, ela dissera. Sim, de coincidências também se nutre a história. E por que não? Dona Norma…


  • Não diga! Eu também…

    Não diga! Eu também…

    “Desculpe, qual é mesmo o seu nome?” “Estela. E o seu?” Sim, o que ele merecia. Consagrando e consolidando seu caos de motivos siderais. O meu? Júlio. Muito bem. Fácil. “Estela, me diga”, segurando aquela xícara enorme com as duas mãos. “Você costuma trazer estranhos para a sua casa?” “Não. Mas vi que você era…


  • Vanda pela manhã

    Vanda pela manhã

    Júlio entendeu pela metade o que vinha sendo escrito em suas costas. Julgou que a última palavra fosse tesão. Deixou de sentir o movimento do dedo sobre sua pele. Fingiu que dormia para que ela prosseguisse, ela não prosseguiu, ele então fingiu que acordava. Ao abrir os olhos, a primeira impressão foi a de não…


  • O azul-âmbar do dia seguinte

    O azul-âmbar do dia seguinte

    Ciprestes escuros ou azuis, difícil dizer. Agitam-se com a ventania. Penso captar seus movimentos, mas estranhamente é também uma densa imobilidade o que equilibra sua fúria de labaredas, sua ondulação em busca de uma inércia maior.


  • Caminhavam mais lentamente…

    Caminhavam mais lentamente, mãos nos bolsos, cada um, a seu modo, lutando contra a pressa e o hábito, uma resistência consciente e difícil. “De onde vem sua coragem? Você já pensou nisso?”


  • Velhas novidades

    Velhas novidades

    De toda parte os caminhos pareciam convergir para conduzi-lo ao que fosse seu centro secreto, o que seria inverter as coisas: seu centro é que buscava realizar-se e se utilizava do que mais lhe acorresse ao redor. Como dizer algo assim aos seus amigos, para quem todos os bares eram apenas território de caça? Fala-se…