Office in a Small City por Edward Hopper

Categoria: Romance

  • O mito do animal-mestre

    “Você tem alguma história parecida com a do seu amigo?” “Não. Não me lembro de nada parecido.” “É porque tenho a impressão de que você tem sempre algo a dizer.”  “Quem pediu pão de queijo?! Não é possível…” “Bruno me dizia, por exemplo, ‘Vou contar uma coisa que eu nunca contei pra ninguém, nem pra…


  • Mais um papel contra o vento

    O mais é o dia de sol. O dia de sol. Acho que já senti isso antes. Uma sensação incômoda é ver que todos continuam seu afã cotidiano enquanto se está praticamente fora do círculo por algum motivo. A vantagem desse tipo de serviço são essas sessões e encontros em que se praticam diálogos ricos…


  • Eu tenho um diário

    O que me estranha é sermos sempre nós os que vivemos. E todas as civilizações extintas não valem mais do que o nosso dia. Júlio se preocupava com coisas pequenas e também se preocupava com coisas grandes. Sabia que um detalhe da natureza, uma minúcia bem considerada, podia atenuar um grande mistério. Sabia também que…


  • Três dos muitos senhores do mundo. Parte 2

    Ainda tremia um pouco. Mas não gaguejava e tive orgulho de minha pequena coragem. Por pouco eu não lhes implorei que acreditassem em mim, que não pretendia ironizá-los, nem me atreveria a tanto, mas, ao contrário: eu sim fora surpreendido por essa afirmação insólita, para eles tão natural. Então eu disse, quase num repente, não…


  • Explicação do surgimento da mancha sinistra

    Só uma situação de escandalosa obscenidade poderia salvar uma cena como essa, entre dois personagens mal conhecidos, declinando à caricatura. Quem lhe indicara o médico: uma colega de trabalho, a Maria das Graças. Maria das Graças: casada conforme as aparências, mãe de dois adolescentes, no fundo ansiosa pela oportuna aventura que a conduzisse a um…


  • Três dos muitos senhores do mundo. Parte 1

    Era quase inteiramente calvo, ombros contraídos, e mais velho que seus comparsas. Pareceu-me vagamente conhecido, mas sua fisionomia tremulava em minha memória como aquelas palavras que nos escapam por muito tempo e ainda se mostram cinzentas, mesmo estando próximas à claridade da consciência. Eu estava diante de uma mesa de grande porte, atrás da qual…


  • Advento da mancha sinistra

    Mas devo reconhecer que não foi de todo um golpe baixo. Pouco antes, um anjo mensageiro, vindo do nada entre a multidão, surgiu à minha frente, era o sinal: uma criatura loira, cabelos claros e longos, vestido alvo, de tecido leve – só não estava descalça, o que era de se esperar de um anjo…


  • Às voltas pelas ruas do centro: Ana Lúcia jaz em movimento

    Tenta ao máximo não interrompê-lo, quer saber tudo. Enquanto fala sozinho, ele se perde produtivamente. “Com o corpo? Claro. Conto num instante.” “Sei. Num instante.” “Fui até perto da faculdade, onde eu sabia que tinha uma área verde, que era usada pelo Departamento de Biologia e Meio Ambiente, e onde os casais iam, à noite, namorar…


  • E os trens funcionando perfeitamente

    “De onde vem sua coragem? Você já pensou nisso?” “Não preciso de muita coragem”, Estela com estranha naturalidade. “Coragem não para os grandes obstáculos ou eventuais tragédias”, Júlio estreitando os olhos contra o vento. “Coragem para atravessar um dia qualquer, sabe, sem chuva nem contratempos.” Identificava sempre o prenúncio de uma remota alegria quando encontrava…


  • Conquista-me ou te destruo

    Impressionava-me que todos parecessem satisfeitos consigo mesmos. Sempre sendo apenas o que eram, sempre um patamar abaixo do possível, sempre o medo de descobrirem sua força. Minha situação na Leôncio & Barradas Advocacia Ltda. não andava nada bem, depois do incidente mais grave, especialmente quando me ocorreu revelar, de uma vez por todas, ao doutor…


  • Classificados, respeitados, esquecidos

    Nascimento e morte, curiosos registros. Os critérios se contradizem, a cada época sua necessidade e moral. René F. A. Sully-Prudhomme (1839-1907) – França Theodor Mommsen (1817-1903) – Alemanha Björnstjerne Björnson (1832-1910) – Noruega Frédéric Mistral (1830-1914) – França Jose Echegaray (1832-1916) – Espanha Henryk […] A lista prossegue até o presente. Talvez atravesse os séculos…


  • Com Sylvia, em delicada decadência

    Tudo o que eu escrevia sobre ela dava-se em segredo. Sob a proteção do silêncio e da mentira, para que ninguém o pudesse ler em meus olhos o absurdo de estar apaixonado. O ônibus teve de parar, logo ao deixar o ponto, a pedido de uns que alertavam o motorista: o que estava acontecendo?, perguntavam todos,…


  • Síntese de cristal e sombra

    Rembrandt registrava, na evolução de seus autorretratos, um rosto imune aos adjetivos, de um homem também inclassificável, que nunca se deixara abater. Seria possível imitar aquele olhar e estendê-lo ao longo da vida? Que tipo de perdas o enrijeceriam? A ideia sobrevive, não os homens. Lutar pela vida é também uma ideia que se sustenta,…


  • Você era puro e não sabia

    Minha vida é o meu corpo e os meus dias. Minha vida é aqui onde eu estou, com meu corpo. E com meus dias. Conte ao Verne, conte de como uma vez pensou em envelhecer naquela vila, na última porta da varanda escurecida de plantas. Conte a ele, que é seu amigo de verdade, vamos…


  • Johann Fust e a máquina de enganar

    O mundo não: os homens. Outras pessoas, em diversas posições da velha hierarquia, indiretamente, tão indiretamente que acabavam sempre invisíveis, voláteis, imunes. Cinzento por toda parte. Lutar pela vida era óbvio e necessário. Que valor podia haver nisso? Não era de se estranhar que ele no fundo rejeitasse todos os bons exemplos de pessoas que…


  • Nada que não seja a vida

    Não há prazer maior que a inteligência. É o privilégio de pensar o que dissolve os deuses, restitui-me os olhos, faz de mim um homem. Já pensei que o certo era trancar-me no quarto e escrever algo belo. Já pensei também que o certo, mesmo, era deitar tudo isso fora e viajar, viver com mulheres.…


  • E o lugar será outro

    Júlio voltou o bule ao balcão. Tempo mínimo para pensar. Alguma gracinha ou vai levar isso a sério? “Amanhã… podemos tomar leite.” “Quem pediu café?” O rapaz trouxe um pequeno bule fumegante que esqueceu perto deles, sobre o balcão. Estela voltou-se para Júlio, disfarçando o riso. Ele, com um gesto de cabeça passando-lhe que nada…


  • Sinais claros de estados obscuros

    Assim, talvez, foi que minha querida Sylvia compôs sua canção da jovem louca. Fecho os olhos e a ouço escrevendo a mim: querido, por favor, não enlouqueça. “Por favor…”, disse educadamente a mulher grisalha de rosto rosado. “Pois não”, respondi cordial, retribuindo-lhe um leve sorriso. Assim eu atendia os clientes que porventura se aproximavam de…


  • De um passado em tons de cinza

    Não é tão tarde. Mas seu inconsciente já faz contas de como poderá vencê-lo, e isso ignora as horas, o mostrador digital ou qualquer outro marcador de tempo que se tenha jamais construído. Enquanto o ouvia, àquele homem de calva que tão bem guardava memórias de sua cidade e de seus familiares, Júlio não conseguia…


  • Pouco sobre Alan, muito sobre pouco

    outo não sabe mais se ela está bem. Surpreende-se que outros se preocupem com sua ex, e ele não mais. Nenhum plano. Mas tudo continua acontecendo. Café Alvorada. Uma das atendentes é motivo de observações obscenas por parte deles – sim, das partes dela. Claro que ela é atraente, bem proporcionada e agradavelmente profissional: finge…


  • Lapsos de cegueira e lucidez

    Era certo também que nunca antes se sentira tão próximo a alguma coisa, como sempre não podendo descrevê-la. Em diversas fases da história, as civilizações foram alguma vez tão imponentes e sólidas que ninguém, em seu próprio tempo, poderia crer que elas um dia viessem a encontrar seu fim. Aquelas que, por algum motivo, se…


  • Alan nos deixa

    Não quer que lhe digam. Não quer pensar em tantas mais coisas do que apenas pode presenciar com olhos e ouvidos, com o mínimo de misticismo. Quando encontram seu colega Alan num terno azul-escuro, sem vincos, cabelos cuidadosamente penteados, postura elegante, sóbria e estudada como para impressioná-los, recordam que poucas vezes o viram tão bem…


  • Cinzento por toda parte

    Alguém gritava uma ordem de serviço, uma voz distante. Outro carregava um grande pacote, um pouco do peso de estar vivo, como todo cidadão que compra e paga, e percorre sua vida repetindo opiniões que acredita serem suas, outro portador dos discursos governamentais e da fala de seu patrão, salvo honrosas exceções. Um homem caminha…


  • O bobo foi à festa

    Primeiro, teve vontade de morrer. Depois, teve vontade de matar. Depois ainda, teve vontade de ligar para ela, não queria deixar que aquilo tudo passasse assim. Logo após ter contado tanto de seu passado a Liana, Danilo revive a decepção, amarga e surdamente devastadora, de ter flagrado Ana Lúcia indo embora, daquela vez, no carro…


  • Só ela sabia

    Tinha o bolso cheio de fichas, tinha certeza. Onde teriam ido parar? Cheio de datas e pessoas. Anos de sua vida, anotações. Ambições de poderosa modéstia, desejos de assustadora simplicidade, seus silêncios. Pedras polidas que guardara da infância. A loirinha acompanhava seus repentes. Olhava-o agora por baixo da manga do garçom que se inclinava, uma…


  • O aprendiz de feiticeiros

    Danilo se dirige em sonhos aos seus fantasmas literários, vivos e mortos. Bate levemente um livro sobre outro, produzindo poeira e ideias fracas. Ia chamá-lo Sir Golding quando me lembrei de que você não foi agraciado com esses títulos antiquados e pomposos. Os reis dessa sua terra homenageiam seus filhos famosos, que teriam realizado algo…


  • Real e insuficiente

    Não havia futuro em ficar assistindo a si mesmo entre os gestos mais simples, pois todo homem é feito para morrer, como uma casa um dia acaba demolida sem que interesse a alguém saber o que guardava entre seus cômodos. Há várias noites não conseguia dormir bem. Tinha sono à tarde, em meio ao expediente,…


  • Tim-tim com suaves suspeitas

    Com a razão, poderíamos ser sempre bem-sucedidos. Mas vem algum sentimentozinho, sutil ou violento, incompreensível, sorrateiro mas ativo, e põe tudo abaixo. “Ai, vou chorar… Chuif…” “Palhaça. Isso me fazia sofrer, me respeite. Aquilo do tal colega cabeludo dela não queria dizer nada. Foi só uma carona. Ela podia ter ido com ele, só isso.…


  • Não há linhas retas até Estela

    Tantas vezes se deu com habilidade a associação de uma dezena de símbolos somente para se constatar que era tudo falso ou tão verdadeiro que não necessitava dos textos, das telas e das partituras, que só o que sempre buscamos é o orgasmo e talvez o amor, esta palavra, apesar de suas estranhas variações. Tantos…


  • Big Bang, celenterados e filhas mulheres

    Meus amigos, as palavras podem mudar o mundo. Mas não muito. Esses nomes são inofensivos. Então, quando essas moléculas estavam se agregando, havia ali o espírito divino fazendo tudo acontecer, mas como o movimento era aleatório, não era preciso que alguém fizesse algo acontecer, elas se agrupariam do mesmo jeito, outra coisa, o que havia então…


  • Sonho do rio antigo

    Bem agora, enquanto nos observa, está pensando na organização da matéria, apostando que a vida busca aperfeiçoar-se, tornar-se complexa, alcançar a consciência e o conhecimento. Concluindo por fim que o homem é o produto da natureza sobre si mesma. E a consciência, a ferramenta com que o universo procura interpretar-se. “Vocês se parecem com Pablo…


  • E a máquina de escrever?

    Em companhia de mulheres, a rendição ronda os ombros de todos ali como delicados fantasmas. Essas criaturas podem, com um beijo bem dado, afastá-los de qualquer magnífico ideal humano.. Adultos, hein? Jesus, Fernando Pessoa e os Beatles não eram tudo, quem diria. Não foi tão doloroso assim afinal. A juventude se recupera rápido de tais…


  • Os extremos do grande sonho

    Isso era viver, ruas e trânsito humano, reconhecendo a repetição de incontáveis situações diárias sobrepondo-se a um passado acumulado no irreal, no insólito… Tornava a sentir-se respirando e andando, mãos retesadas contra a naturalidade dos movimentos, sangue cegamente visitando cada porção do corpo, isso era viver, ruas e trânsito humano, reconhecendo a repetição de incontáveis…


  • O rival de Churchill

    O rival de Churchill

    Reúne-se com amigos da mesma laia. Todos querem escrever alguma coisa, ninguém sabe por quê. A… CRI… SE… DO… MU… MUN… DO. Muito bem. Titulo sem erros. Centralizado. Conta os toques da linha, subtrai cada letra e espaço do que haverá de ser escrito, divide por dois, conta de novo… Perfeito. A crise do mundo: uma…


  • Música, ruídos: oásis e desertos

    Em contrapartida às considerações abrangentes, amplas, exteriores, opunha-se talvez uma certa necessidade de voltar-se ao centro, à unidade, que era de onde partia qualquer ideia do mundo. Bar do Tomás, depois o Oásis. Como sempre. Cerveja. Vodca. Rostos e corpos, mulheres ainda atraíam seus olhos, obscuramente. Música, breves sinais de bem-estar, mesmo assim sem o…


  • Outra das mil noites

    Receava que qualquer alteração pudesse interferir nessa surda harmonia matinal, quebrando sutilmente o feitiço. Que feitiço? O que era aquilo? Cedo demais para saber. “Assim… Mais forte…”, ela agora menos constrangida, menos hesitante, falando em outro tom, outra fluência. Que vida, não? Ele imaginava que alguém pudesse deliciar-se com sexo a noite toda. Ou o…


  • O que restou de sua grande e última decisão

    O dia que não tencionava viver. Um dia, apenas. A diferença entre tudo. Um dia todo se passara desde o veneno da véspera. Um dia todo para morrer. E fracassara. Quando conseguiu despertar novamente, sentiu como se apertassem suas têmporas com uma morsa. Veias latejando junto ao ouvido. Tonturas. Pontadas no cérebro. Dormira todo o…


  • Um título para isto

    Sempre essa miserável necessidade de ser amado por desconhecidos. Por uma legião de fantasmas que o julgam. O livro foi parar numas poucas livrarias, dois ou três exemplares em cada uma. São pontos de venda modestos, mal situados, pouco visitados, e A canção de pedra não se encontra exposta em nenhuma das vitrines, como o…


  • Senhores de tudo (e agora abençoados)

    E tudo se passa com tal naturalidade que nem mesmo os poetas se incomodam mais. E fazem versos sobre a nudez dos que amam, a sensualidade dos corpos, a solidão da alma e o antigo fato de não saberem quem são. Os bens da Terra, maiúscula mesmo, que é todo o planeta, e até agora…


  • A Noite das Vitaminas

    As venezianas denunciavam vagamente a altura do sol. Outra manhã. Mas não foi isso que o moveu à irresistível lassidão, o que lhe passou outra amostra da morte sob o peso de um sono extraordinariamente profundo. A água corria há algum tempo. Umafr est adec onsci ênci aof erec ia-l he out ravezu ma ponte…


  • O otimismo dos honestos

    O boato sobre a/o amante do doutor Aguiar, juntamente com os/as possíveis clientes envolvidos nas fraudes, já havia chegado ao Iraque. Paralelamente, corria a suspeita de que os tais documentos não assinados referiam-se a uma mesma pessoa, usando nomes falsos, chegando a se supor que havia ali algum envolvimento de uma eventual amante do doutor…


  • O diário de um morto. 6

    O diário de um morto. 6

    Enquanto ando, fecho uma das mãos, sentindo-a firme e obediente à minha força, tendo a convicção de estar vivo a senti-la, constatando sua realidade no extremo de meu braço. Vivo e sei que vivo, o que não significa nada. Quero esquecer que tanto me lembro. Página 113. Cidades em ruínas, poetas mortos, tentativa obstinada. Sinto…


  • O diário de um morto. 5

    O diário de um morto. 5

    Estas mesmas ruas podem ter sido pântanos fabulosos onde os dinossauros ruminavam ervas. Sempre o mesmo lugar. Quanto tempo?. Página 81. Inseto e luminária, longa caminhada, pântanos com dinossauros. Lia à luz da luminária quando um inseto minúsculo voejou rumo à lâmpada e caiu morto sobre o papel muito claro. Tendo diante de mim o…


  • O sísifo da Rua Rocha

    O sísifo da Rua Rocha

    Enquanto isso, despertava, vestia-se, deslocava-se da precária pensão onde morava para o trabalho, contribuindo com a continuidade dos dias. Quando se deitava, percebia através das paredes a água vibrando macia dentro dos canos (que ele imaginava muito velhos) em direção aos reservatórios. Um ruído constante e quase secreto. Confundia as impressões que circulavam por seu…


  • O diário de um morto. 4

    O diário de um morto. 4

    A resposta a um enigma, quando encontrada, é sempre mais simples que o próprio enigma. Por vezes, simples demais, de uma simplicidade constrangedora, podendo ser resumida numa frase que surpreenderá a todos e chegará a ser infantil. Página 63. Identidade provisória, enigmas decifrados, relógios imprecisos, a garota grega, um pensamento simples. Meus dias escoam-se pela…


  • O diário de um morto. 3

    O diário de um morto. 3

    Eu que não espero nem avanço, antes de me deitar penso no que posso enquanto sou, dou corda ao relógio outra vez. A morte me orienta, me espanta e redime. Página 59. O imperador e o idiota, fósforo no passado, espectro de Munch, pessoas na esquina. Minha vida tem sido uma luta interior incessante entre…


  • O diário de um morto. 2

    O diário de um morto. 2

    Pode-se dizer que nossa consciência de mundo (e de universo) seja bastante desenvolvida com relação aos outros animais. De resto, em relação a quê? Página 55. Local de nascimento, questões de consciência, o alpinista. As pessoas têm de nascer em algum lugar, por isso estou aqui. Apenas isso. Não me ocorre nenhuma nação, povo ou…


  • De como perdemos Val

    De como perdemos Val

    A morte põe tudo em segundo plano. Os planos de todos em segundo plano. Porque todos os planos de todos não a levam em conta, e isso a ofende. “Oi! Fala, Souto, e aí, velhão?! Opa, quanto tempo, hein? E então? Quando é que nós vamos tomar uma?” “Dan, liga a TV.” “Como assim?” “Liga a…


  • O diário de um morto. 1

    O diário de um morto. 1

    Sei que os lugares existem independentemente de nós. Mas quando revejo um pátio, um ladrilho trincado, um tanque ou muro umedecido, sinto que os reinvento através de meus olhos, através do que me sinto sendo hoje. Ser o que sou hoje é a única maneira de revê-los. Página 27. Velha casa, sala de espera, chuva.…


  • O que fez com ela? – com o corpo dela?

    O que fez com ela? – com o corpo dela?

    Ela sente que uma única palavra pode quebrar o encanto. Pode estilhaçar a sequência do que vinha sendo exposto tão espontaneamente. “Quando lembro de outras namoradinhas que eu tive, quando penso na Regina e como era divertido ficar com ela no carro… Na Júnia, com aquele jeitinho dela de intelectual ativista, quando lembro de como…