Office in a Small City por Edward Hopper

Categoria: Conto

  • “De quem é isso?”

    Meus personagens são seus próprios inimigos. A realidade os aflige por serem eles o que são e não por alguma situação especial. Ela então me perguntou se eu já tinha lido isto e aquilo, romances épicos sobre os ciclos da borracha, da cana-de-açúcar, do café, da urtiga… Não tinha entendido nada, coitada. “Isso são livros…


  • Primeiras falas de um reencontro maldito

    Gostaria de confessar-lhe que sentia uma grata emoção por reencontrá-la. Que havia superado minhas estranhezas dos tempos de colégio, que a perdoava por tudo. Ela estava ali. Junto a mim e tão próxima, na plenitude de sua beleza, após dez anos passados. Eu mal podia acreditar. “Puxa…” De início, não sabia o que lhe dizer.…


  • Eu e ela em sintonia improvável

    Não havia mais ninguém no colégio, e já escurecia. Bastidores do pequeno anfiteatro, fios mal enrolados, máscaras sem uso. Foi ali. Tentei esquecer Vanessa movido principalmente pela realidade de minha condição, o que me impossibilitava sequer alcançá-la como mera colega de classe. Já não tinha mais esperanças nem articulava planos de aproximação: tudo se consolidava…


  • Distrações e desastres (mais ou menos) dramáticos

    O suicídio não é a solução, pensava eu erroneamente. Mas esse equívoco já tinha o efeito de uma sentença infernal. Minha coragem voltou. Agora eu tinha todo o tempo do mundo, e poderia redigir duas mil vezes a mesma mensagem até chegar à forma final, corrigindo-me e aperfeiçoando-me continuamente. E esta era uma frase que…


  • Dicionário negro

    Eu tinha certeza de que a natureza já me havia libertado da ignorância. E o combate intelectual é tão devastador quanto a batalha dos homens. Eu sabia que boa parte de meus colegas tinha um quarto só deles, além de um quarto de estudos. De qualquer forma, mesmo em um ambiente estreito, embora acolhedor, eu…


  • Melhor esquecer – mas não

    Não foi ainda minha última tentativa de alguma tolice. Por essa época, eu me havia iniciado em escrever cartas.. E Vanessa? O que pensaria de mim? Talvez isso a despertasse, talvez ela pudesse compreender os meus sentimentos. E isso instigaria suas divagações, aumentando assim minhas remotas possibilidades. Talvez não. Talvez ela passasse, então, a humilhar-me…


  • A fortaleza obscura de minha solidão

    Com um cofrezinho de joias, Fausto aproximou-se de Margarida: Vanessa não podia ser muito diferente daquela infeliz. Apesar de tudo, não conseguia deixar de investir em meus sonhos com Vanessa. Não conseguia esquecê-la. Só pensava nela – portanto, em mim. Senti que não podia esperar mais. E resolvi agir. Movido por um ímpeto de bravura…


  • Piano para um menino secreto

    Eu não acreditava em contos de fadas, nem gostaria que fossem verdade. Não como nos livros. Perdido em minha conturbada solidão, eu só fazia assimilar a realidade dessas relações. Imaginava que um dia eles haveriam de se casar, teriam filhos (sempre tão belos, sempre tão bons…), e estes talvez estudassem em outras salas de aula…


  • O gosto diário de sua indiferença

    Seria uma tortura tê-la sempre por perto, sabendo-a intocável. Eu a amava. Não fui eu a primeira nem a última vítima do senso de humor humano. Há também vítimas fatais, em diversos países. E sei que, como eu, há outros por toda parte, em todas as épocas, em maior ou menor grau, os mais fortes…


  • De memórias ultrajantes

    A dor desses vexames me atrai diabolicamente. Só eu sei como me senti, só eu sei como me sinto ao relembrá-los. Por vezes eu me calava e não reagia, aproveitando-me oportunamente para avaliar os limites da mordacidade alheia. Quem sabe sintam pena, eu filosofava. Pena de si mesmos por estarem subordinados à ditadura de tais…


  • Todos queriam ser o Sol

    Na escola queria cada um ser o Sol, nunca o planeta. E as ideias do lúcido polonês eram incompatíveis com meus pobres sofismas. Não quero recordar as humilhações que amarguei em sua presença, inclusive, por causa de uma ou outra brincadeira de mau gosto que alguém sempre inventava. Eu era uma espécie de bobo da…


  • Seria o mínimo razoável

    Difícil sim, trágico até, é quando se dá o acidente da inteligência.E se compreende mais do que o esperado. É. Não é. Não, não é. Sim, pois é. Seja como for, não é difícil para alguém que nasce em certo meio, ainda que desvalido e sem perspectivas, viver entre os seus, desde que tenha também…


  • A vida segundo um antigo espanhol

    A vida segundo o patrão de mamãe e segundo um antigo espanhol.Eu era pouco mais que um menino, mas começava a desconfiar que os discursos mal correspondiam à realidade. Certa vez, fomos visitados pelo patrão de mamãe, e o recebemos à mesa da cozinha, no momento o local mais apresentável da casa. Ele suspirava todo…


  • O fato de eu ser ridículo

    Um leque de agradáveis invencionices. O sucesso, o dinheiro, a vida eterna e outras ficções. Vanessa Maria Sales Arantes Pavão – ainda me lembro de seu nome completo – sempre foi uma garota inteligente, observadora. Bonita também. Filha de um médico renomado em nossa cidade, vinha de um meio social bem diferente do meu, de…


  • Era ela, ela mesma

    A esquina, a avenida arborizada, mesas ao ar livre de um conhecido café. Eu a vi como num sonho, um sonho inesperado e arrebatador. Minha vida tem poucos atrativos, quase nada acontece, e só me é permitido escrever isto, dizer o que penso e assim expressar-me, porque sou inofensivo. Um jovem solitário, pouco atraente, sem…


  • O que tenho em comum com os tiranossauros

    Ante a nudez da menina rendida, a saliva escorre-me entre os dentes afiados. A fome e a sede forçam-me a dominar essa adolescente frágil a quem não resta senão sucumbir às vontades que amplamente se desenvolvem na penumbra do predador lascivo, poderoso, efêmero. Lisette Maris em seu endereço de inverno 53. Antropologia aplicada – próximo…


  • O caminho das ruas de flores vermelhas

    Se lhes digo “Olá!”, então passa um silêncio. Se me aproximo calado, ouço que murmuram entre si segredos inacessíveis. Ignoram-me. Mas estão ali. Eu as reconheço, sem dúvida, mas elas não a mim. Peço-lhes que me escutem ou devolvam um sinal que me permita compreender. Algo, o que finalmente me faça compreender. Depressa, antes que…


  • Braile contra a luz

    Admirava-me que as palavras estivessem presas às coisas e não caíssem como um ramo seco de uma árvore. Que um vento não as embaralhasse e uma árvore não passasse a se chamar poste ou cavalo. Um cão, menino. Uma casa, ratoeira. Um homem, pedra. A literatura não é outra coisa que um sonho dirigido. […]…


  • Invasão (busca e apreensão) para nosso bem

    Invasão (busca e apreensão) para nosso bem

    Patrícia atreveu-se a perguntar: “Vocês são os famosos nazistas?”. “Claro que não”, disse a mulher, mal-humorada. “Mas temos aliados por toda parte.” Entraram sem muito alvoroço, eram apenas ordens, não tinham nada a dizer. Mesmo assim, não pude evitar surpreender-me: homens fortemente armados, fuzis de repetição, alguns mais ao fundo carregando pesados explosivos, uniformes de…


  • Os amantes das irmãs Novaes

    Os amantes das irmãs Novaes

    Recordações autônomas, indesejadas mas inevitáveis, como a gaveta do criado-mudo em que seu pai guardava o revólver. Entre eles, também havia o predileto. Elas o dividiam. Nunca houve questão quanto a isso. De resto, não era de se esperar que duas estudantes vindas da capital, hoje ocupando um discreto apartamento na parte alta do bairro…


  • À beira de um ataque de abismos

    À beira de um ataque de abismos

    Claro que não sou o que normalmente chamam um homem de boa vontade, nunca fui. Mas nesse dia, especialmente, eu me acreditava a criatura mais desprovida de vontade do mundo. No centro da cidade, entrei por uma galeria que me serve de atalho e, com isso, ganhei algum tempo. Quero dizer, não perdi tempo. Quero…


  • Arremessando a bola para bem alto

    Afinal, o que vale viver de uma maneira ou de outra? Às vezes passo por ali, outras vezes não, o que não faz nenhuma diferença. Logo acima, na travessa onde moro, abre-se uma entrada sinuosa a partir da qual a rua se bifurca e onde moram muitas pessoas, quase se esbarrando de tão juntas, num…


  • Aperfeiçoamento no processo de derrubar coisas

    Aperfeiçoamento no processo de derrubar coisas

    Dificilmente leio alguma coisa até o fim. Meus livros são todos interrompidos por papéis avulsos, que enfio neles como marcadores, e páginas dobradas com orelhas nada exemplares. Eu tinha ainda uns dez minutos, à toa. Duraram uma eternidade. Caberia minha vida inteira nesses dez minutos. À toa. Abri o periódico literário que havia chegado na…


  • Pensamentos preguiçosos e pequenos sustos

    Pensamentos preguiçosos e pequenos sustos

    Afinal, o que vejo mais do que esta manhã? O que vejo além do que apenas me cerca, excluindo-se o que tendenciosamente imagino? A primeira coisa que vi nesse dia, ainda pela janela, foi o vizinho da casa em frente, que acabava de chegar com seu carro meio engasgado de frio. Fiquei ali, sem pensar…


  • Mas hoje era outro dia

    Mas hoje era outro dia

    Pensei ter sentido um novo calafrio, não tinha certeza. Teria sido talvez um último resquício daqueles tremores e impulsos febris. Ou uma febre menor. Ou um princípio de… Não, não era nada. À noite, subi ao quarto não pretendendo mais do que deitar e dormir. Estava frio. Como não havia jantado, a febre alastrara-se por…


  • Febre – e outras emoções em cores

    Febre – e outras emoções em cores

    Tudo o que existia participava de alguma forma do calidoscópio de surpresa. A essa altura, eu já sentia a minha febre. Hoje acordei muito cedo, antes mesmo do despertador. Isso não é normal, pois geralmente tenho um sono de pedra e duvido até que conhecesse o sol da manhã, caso não houvesse despertadores. Mas algum…


  • Como se nunca eu me conhecesse

    Como se nunca eu me conhecesse

    O maior herói é o homem comum, no dia qualquer. A maior aventura, a que não acontece. Embora a primavera se abrisse em sua plenitude, e embora eu não encontrasse um início menos arcaico para esta narrativa, poucos eram os jardins e canteiros de calçada onde umas pequenas flores desabrochavam, sem alarde, sua beleza. É…


  • O inverno segundo teu semelhante

    O inverno segundo teu semelhante

    Em um mundo onde as coisas tendem à dissolução, onde o tempo e a morte minam o rosto das pessoas e as arrastam em seu torvelinho cotidiano de estranhas situações, no meio de tudo, um menino pede socorro. Não há nada e nem pode haver algo mais caro ao ser pensante do que a vida.…


  • Serviço de rua

    Serviço de rua

    Não, não sou audacioso, sei disso. Não tenho certos valores apreciados pela maioria. Mas não estou vencido. Tenho planos subversivos para mim mesmo. Há quase um ano trabalho num escritório de cobranças, e tenho me aguentado. Hoje sinto-me à vontade com os colegas, eles também fingem que nos gostamos. Quase um ano nos separa de…


  • Estudo com cristais. O réquiem das crianças (13/13)

    Estudo com cristais. O réquiem das crianças (13/13)

    Penso ver em seu rosto todos os rostos. Em todos, o preço da paz. Em todos, o impulso da vida. Em todos, a face da morte. A trilha de lajes hexagonais atravessa a noite – e a tormenta. Leva-me a essa manhã de árvores que, aos poucos, se dividem e se alinham entre alamedas, muretas…


  • Estudo com cristais. Marina (12/13)

    Estudo com cristais. Marina (12/13)

    Não há linha do horizonte, sim um cinturão de neblina sobre um oceano de cobre. A tarde lenta e real, desde já perdida. Sentado sobre a rocha mais ampla, entre outras que formam o semicírculo irregular nesse extremo da praia, diviso, a distância, o vulto em movimento, uma mulher. Esse corpo, conforme se aproxima, ultrapassa…


  • Estudo com cristais. A tormenta (11/13)

    Estudo com cristais. A tormenta (11/13)

    Amo os castelos porque são definitivos. Cada grande bloco mantém-se ali, desde um dia antigo, algo semelhante às esculturas milenares, que o tempo sinaliza, mas não arrasta. Os cristais de gelo, embora ostentando formas simples, têm a alma intrincadamente ramificada. Não cai a neve, e não a espero. Volto-me ao céu, aos cristais que o tornam…


  • Estudo com cristais. Criptógamas (9/13)

    Estudo com cristais. Criptógamas (9/13)

    A multidão, cidade refletida, o ponto de ônibus, o ponto. Então eu a vi. Nesse dia, eu a vi. A flor de seis pétalas pode ocorrer em qualquer estação. Qualquer parte. Mesmo onde não se supõe um jardim. Ela é rara e efêmera. Dá-se a todos, ainda que poucos a apreciem em seu esplendor momentâneo,…


  • Estudo com cristais. Carina (8/13)

    Estudo com cristais. Carina (8/13)

    Rosto atrevido, gestos audaciosos. E tem medo. Frágil, como todos os fortes. “Você nem olha pra mim. Será que é homossexual?” “Quem sabe?” “É ou não?” “Se fizer meu tipo…” “Chegue mais perto.” Carina me parece próxima à geometria: rosto anguloso, realçado por cabelos curtos, queixo em linha reta e lábios finos, de corte preciso.…


  • Estudo com cristais. Verdes renovam o silêncio (7/13)

    Estudo com cristais. Verdes renovam o silêncio (7/13)

    Pressinto que as respostas estejam por toda parte. Aqui mesmo. Na água que verte. O jardim que me cerca. O relógio de sol. O labirinto de pedras. Clave de Sol talvez seja a versão flutuante do que, nas abelhas do alvéolo, múltiplas de seis, é consistente e carnal. Quero que saiba, Clave de Sol: somente…


  • Estudo com cristais. Silene (6/13)

    Sempre acreditei que a sensualidade se associasse mais às manhãs. Sexo e beleza são o mesmo em meu espírito. Uma única nuvem preenche o céu urbano, trazendo a todos uma manhã triste. “Não há manhãs que sejam tristes. Doença de poetas.” Silene esquiva-se de meu gesto e ergue-se da cama. Descalça, como se maior fosse…


  • Estudo com cristais. A menina dourada (5/13)

    Estudo com cristais. A menina dourada (5/13)

    Fotografada no álbum de alfazemas, como saída de um cromo. São sonhos que jamais esquecerei. O relógio avança. Em todos os sentidos. Aos que isto leem, ao que registra. Aos amantes e aos que não o foram. Aos que ousaram ou apenas viveram. Seis entre as mulheres que me possuíram cristalizam-se, numa tentativa de subverter…


  • Estudo com cristais. Cristal quase um relógio (3/13)

    Em outro quadrante eu a encontrei, num quarto sem endereço. Tentarei adivinhar seu nome, seu verdadeiro nome, antes que o hexágono torne a girar, quase um relógio. Registrar a palavra diamante é quase cristalizá-la – e cristalizá-lo –, cristalizar o hexágono bidimensional, plano e limitado, símile do papel que o comporta e da palavra que…


  • Estudo com cristais. Clara (2/13)

    Estudo com cristais. Clara (2/13)

    Os carrilhões da catedral mais próxima situam-nos à meia-noite. Cabe a nós agora recriar nossa parcela de noite, a noite que perpassa o mundo. O odor característico que emana dos bastidores, tenho certeza, para sempre há de tornar-me a esta furtiva impressão de clandestinidade. Clara fecha a última porta. Acende uma luz tênue que mais…


  • Estudo com cristais. O prisma e a pirâmide (1/13)

    Estudo com cristais. O prisma e a pirâmide (1/13)

    Há algum calor em sua figura distraída, dispersa. Uma fragilidade que qualquer palavra pronunciada violentará como se trinca um espelho. A feira de artesanato me lembra que toda paz tem seu preço. Desde os primeiros ourives e os artistas rudimentares, a colmeia humana tem sofrido toda sorte de flagelos e tumultos que, de certa forma, se…


  • Lisette Maris. A oitava noite mais fria de todas (15/15)

    Lisette Maris. A oitava noite mais fria de todas (15/15)

    Voltarei a vê-los sob outras neblinas, que eles talvez não se impressionem muito com meu relato inverossímil. Minha história é só mais uma história entre muitas. Dalma surge à entrada da barraca, vem até mim. “Então? Trouxe algo para eu ler?” “Não trouxe nada”, respondo. “Não tenho nada.” Dalma percebe que estou prestes a chorar.…


  • Lisette Maris. Um sonho afundando em sangue (14/15)

    Lisette Maris. Um sonho afundando em sangue (14/15)

    Outra vez parece sorrir entre as presas, como saboreando minha impotência. Quer apenas assistir à minha confusão e com isso enriquecer seu ódio. Volto-me ao caminho. Vou me encontrar com Damares. Aperto a gola do casaco contra a brisa glacial, sigo por minha rua, de árvores esparsas, gramados das casas confundindo-se e repetindo-se até o…


  • Lisette Maris. Um silêncio de grandes ventos (13/15)

    Lisette Maris. Um silêncio de grandes ventos (13/15)

    Faço um sinal para que embarquem enquanto é tempo. Mas já não podem ouvir nem se mover. São agora formações de gelo presas à paisagem da estação. E nada esperam. E nada desejam. Do alto de meu posto, dou as últimas ordens para que Lisette Maris ponha-se a caminho. Damares, tão bela quanto no sonho…


  • Lisette Maris. Sinais sutis e sinais gritantes (12/15)

    Lisette Maris. Sinais sutis e sinais gritantes (12/15)

    Tudo que eu queria esta noite era contar a ele. Agora eu o sinto como um espião disfarçado entre os mortos. Um animal mitológico que guarda em seu íntimo uma brecha entre as últimas árvores do inverno. Peço ao gigante Diego que a chame na barraca. “Então? Parece que veio correndo, que foi? Quer um…


  • Lisette Maris. A sala (quase) secreta das almofadas (11/15)

    Lisette Maris. A sala (quase) secreta das almofadas (11/15)

    Ela ouve também, fecha o casaco, recompõe-se. Seu pai parece próximo. Tornará a passar por aqui em breve. Estará de óculos. Quando vi Damares pela primeira vez, ela não tinha nome. E hoje me atrevo, quem diria!, a confessar-lhe, na sala das almofadas, meu sonho ridículo com o capitão Newman, especialmente detalhando a sequência em…


  • Lisette Maris. A viagem improvável do capitão Newman (10/15)

    Lisette Maris. A viagem improvável do capitão Newman (10/15)

    Todos os ruídos que produz essa partida espetacular são devastadores. Ao mesmo tempo, incrivelmente suaves. – 57 – _________________________________________________ Capítulo XIII A DESCOBERTA O escaler aportou no flanco norte, oposto à rota da baía. O capitão Newman mediu com os olhos a distância da nau ancorada, girou o rosto bem barbeado, de queixo intrépido, e…


  • Lisette Maris. Seus olhos estreitos, sem se desviar das cinzas (9/15)

    Lisette Maris. Seus olhos estreitos, sem se desviar das cinzas (9/15)

      Olha as cinzas como fixando um ponto para além do que vê. Sinto que vou me engasgar não com a saliva, mas com o silêncio. “Essa moça acredita em Deus?” “Não sei. Ela parece ser muito inteligente.” “Como? Ainda não perguntou isso a ela? O que tanto vocês conversam então?” “Ora, mãe. Você nem…


  • Lisette Maris. Mapas e diários de não viajar (8/15)

    Lisette Maris. Mapas e diários de não viajar (8/15)

    Entre outras considerações, esse meu ancestral remoto acreditava, aliás, que os homens necessitavam dos diários de bordo, não tanto como um relatório de viagem, mas como um registro da solidão. Amanhã encontrarei Dalma e Diego junto ao fogo brando, contarei a ela de como levei Damares pela cintura sob os arcos do bairro velho, de…


  • Sonho 1664. Hotel em outro lugar

    Sonho 1664. Hotel em outro lugar

    Não sou dado a sinais misteriosos ou aparentemente sinistros. Considero a realidade como ela se apresenta, com praticidade, sensatez – por vezes, até com bom humor. Agradou-me a primeira sala, onde se dispunham um sofá, mesa de centro, duas poltronas convidativas e umas plantas artificiais. Estranhei o aviso pregado à porta pelo lado de dentro,…


  • Lisette Maris. O doce ferrão de sua primavera secreta (7/15)

    Lisette Maris. O doce ferrão de sua primavera secreta (7/15)

    Ofereço-me ao que quer que faça, sinto-me capaz do que não posso, por ela. Seus olhos esperançosos lançam-me centelhas e cristais marinhos. Diário de bordo. De acordo com a posição do Sol e a fase dos calendários, Lisette Maris atravessa agora a última etapa desta estação glacial. Damares não me pergunta sobre o inverno, talvez…