Office in a Small City por Edward Hopper

Teus olhos na escuridão. 46 – O sequestro do voo 451 da FWN

Uma aventura perigosa na clandestinidade.
O mapa de um escândalo.
Um segredo potencialmente devastad
or.

Caía a manhã pela metade, rotina no trabalho, compartilhamento de tarefas, esforços e gracejos, quando todos interrompemos o que fazíamos para acompanhar uma inserção urgente, em meio às matérias das redes televisivas. Uma importante agência internacional liderava as transmissões. A notícia de que um avião poderia ter sido sequestrado fez todos se arrepiarem com a lembrança de um grande evento catalisador, no início do século. Não era o caso. As torres de controle haviam perdido o contato com a tripulação, mas, até aquele ponto, a aeronave não se desviara da rota.

“Alguma coisa estranha, colegas. Meio fora do comum.”

O jato da FWN Airlines, voo 451, havia decolado do aeroporto Deerby Hoffmann, centro-norte do continente europeu, com destino a um país norte-americano. As imagens mostravam alguns supervisores e controladores de voo reunidos em torno de um deles, o encarregado que tentava restabelecer a comunicação, assim como nós agora nos concentrávamos à frente do telão, uns ao lado dos outros, compartilhando aquele estado típico de apreensão que nos fazia a todos irmanados, curiosos e tensos, aguardando um retorno para as tentativas de contato, como se algum de nós ali pudesse repetir a pergunta do técnico e colaborar com seu trabalho, tal a impressão de proximidade e imersividade predominante.

“FWN 451, Toulouse. Tentando contato. Responda, FWN.”

O controlador de voo falava uma neolatina sem inflexões da península, o que o tradutor automático lograva dublar com perfeição.

“Voo 451 da FWN, Toulouse. Tentando contato. Algum problema, FWN?”

A Cleo veio para junto de mim.

“Preciso contar uma coisa importante. Você vai gostar.”

“Mesmo?”, eu sem tirar os olhos do telão, fingindo ser, como combinado, sempre só um colega. Ela usava um macacão azul-claro, camiseta rosa, tênis brancos, parecia algum tipo de doce.

“Consegui uma entrevista com o professor Heródoto…”, disse ela digitando alguma coisa em seu personal.

Eu quase engasguei. “Com o… É sério isso?”

Mostrou-me o personal, a conversa com a secretária, o horário combinado. Tudo ali, na telinha.

Por fim, a voz do piloto da aeronave, em segundo plano, se fez ouvir. Ele falava uma nórdica com inflexões do Reno.

“Toulouse, FWN retornando contato. Informando que estamos sendo sequestrados.”

Um murmúrio em efeito doppler ecoou por todos nós, emitido por nós mesmos. Atentos ao procedimento seguinte, que deveria partir do controlador de voo, ninguém se atrevia a pronunciar uma palavra, com receio de trincar o ar como cristalizado. Isso pareceu estender-se por muitos minutos, embora alguns ali considerassem o relógio, registrando cada segundo, por conta própria.

“FWN, Toulouse. Quer reportar ação de sequestro?”

O piloto parecia hesitar. Talvez o tempo para que os sequestradores tomassem decisões e o autorizassem. Os colegas do controlador de voo, uns com a mão no queixo, outros com a mão na boca, aproximavam-se de sua tela, na qual podiam acompanhar a trajetória do avião, que seguia rastreado normalmente pelo radar. Com a mesma ênfase, quase neutra, ele repetia a pergunta.

“FWN, Toulouse. Quer reportar ação de sequestro?”

Na redação, todos quietos, ansiosos, como se o piloto pudesse responder diretamente a nós, a qualquer momento. Sua voz, em baixo volume e enrouquecida pelos aparelhos, voltou a galvanizar o espaço.

“Toulouse, FWN 451 reportando formalmente situação de sequestro. Requerendo atenção especial.”

A aeronave agora desviava-se de sua rota e se dirigia ao nosso país. O piloto solicitava permissão excepcional para penetrar nosso espaço aéreo. Uma base militar foi acionada, e dois caças decolaram para acompanhar de perto o voo da FWN, que agora se deslocava, determinado e solene, sobre o Atlântico Sul.

“Cleo, como conseguiu isso?”, cochichei quase espantado.

“Não sei. Arrisquei. A secretária dele anotou meu pedido e me retornou agora de manhã. Marcamos para o sábado.”

Marcamos? Você e ela? Ou eu vou também?”

“É claro! Não quer?”

“Quero sim. Claro que sim. Mais do que nunca. Isso é inacreditável. Ele parece ser inacessível. E é. Uma coisa dessas vale ouro para um midcom.”

Agora, as imagens transmitidas por nossos aviões militares mostravam o gigantesco jato da Free World Nations, elegante e imponente, sobrevoando o oceano, em uma vasta manhã de nuvens. Quando me voltei ao telão, ouvia-se a voz de uma mulher, também em volume baixo e enrouquecida pelos canais de comunicação via rádio, calma e assertiva, em posição declarada de porta-voz do grupo.

“Somos o RF, dos Países Altos. Exigimos que nossas instruções sejam seguidas. Não pretendemos ferir ninguém. Queremos transmitir nossa mensagem ao mundo. Ela será lida no momento oportuno, depois que o avião pousar e quando todos estiverem seguros. Não tentem nada, e todos ficarão a salvo.”

O RF (Real Freedom) era conhecido por atos de sabotagem e ataques de hackers contra grandes instituições financeiras, particulares e governamentais. Há pouco mais de dois anos não se ouvia falar neles, e as divisões especiais da polícia de seu país, encarregadas de uma perseguição sem tréguas a seus membros e do rastreamento de seus esconderijos, chegaram a declarar publicamente que a organização podia ter se desmantelado por conta própria, em função de discórdias internas. Já haviam até feito um filme sobre o grupo, como encerrando sua participação na história recente. Agora, para surpresa geral, aí estavam eles: ativos, operantes, em pleno ar – e no ar de todas as mídias que, mais uma vez, paralisavam o país. Um filme que o mundo já tinha visto, agora atualizado e emergindo do nada, estrelado pelos corajosos ativistas do Real Freedom: articulados, eficientes, fascinantes, rumando para cá, para o nosso país, conduzindo, sob ameaça e no curso da execução tática de mais uma ação cuidadosamente planejada, a majestosa aeronave da FWN ao Aeroporto General Getúlio Figueiredo, escoltada por dois jatos de combate.

“Como foi isso, Cleo? Eu nem sabia que você estava tentando agendar um… uma…”

“Eu me apresentei como o que sou: uma jornalista midcom. Da Facto. Falei sobre a Facto, passei até o nosso endereço, o da redação. A secretária, quando me respondeu, disse que ele se lembrava de mim, sim, que me conhecia muito bem, e isso facilitou o agendamento.”

“Como é possível? Você me disse que não o tinha conhecido. Que nem tinha sido aluna dele.”

“Não fui mesmo. Ele não deve me conhecer. Deve ter me confundido com alguém. Não importa. O fato é que eu consegui esse horário, essa entrevista, essa… Ah!” Tocou o personal, desativando-o, guardou-o no bolso do macacão. “Não está orgulhoso de mim?” Era outra vez aquele jeito de menina trapaceira, trazendo-me outra surpresa motivadora.

Segurei e soltei sua mão, com cuidado para que ninguém visse. “Estou sim. E também preocupado. Anda se metendo a fazer coisas que…”

“Para com isso agora!”, disse ela em voz baixa, entre dentes, predadora vegana. “É isso mesmo que eu quero fazer: me meter nas coisas. Depois que conheci o seu pai, que eu conheci a vontade dele de saber das coisas, de arquivá-las, de não deixar passarem as injustiças, quero mesmo saber tudo, me meter em tudo. Fiquei com isso na cabeça. No coração.”

Pensei que fossem aplausos: palmas batidas no ar, rápidas, à altura de nossas cabeças. Era o Edison que saía de sua sala e nos convocava.

“Equipe, vamos voltar ao trabalho. Vocês ouviram: falta ainda uma hora e quarenta minutos para esse avião chegar aqui.”

Sim, mas quem é que queria se afastar do telão, não vivenciar cada um daqueles cem minutos silenciosos, em suspense, interessantíssimos? Continuamos acompanhando tudo por nossas telas, por nossos GPs, individualmente. A Polícia Internacional acabara de divulgar a identidade dos sequestradores. Cinco fotos retangulares verticais, em sequência horizontal, mostravam os rostos de três homens e duas mulheres. Todos jovens, boa aparência. Um rapaz de barba bem cuidada, branco, nariz afilado, olhar sereno; outro, de rosto ovalado, quase loiro, cabelos finos, com sinais precoces de calvície; outro, negro, rosto largo, queixo robusto, cabelos curtos, costeletas finas, olhar inteligente; uma garota de rosto triangular, traços típicos das indianas, olhos grandes, negros, pele morena, com aquela cor a um tempo forte e suave, que caracteriza sua etnia (seu nome revelava sua origem ou, pelo menos, sua ascendência); outra, cabelos castanhos tendendo a ruivos, rosto claro, sereno, olhar incisivo, boca de lábios retos – soubemos depois que era ela a porta-voz do grupo: Gertrid.

Quando o avião entrou em nosso espaço aéreo e se retomaram as instruções e o diálogo entre os controladores e o piloto, fomos novamente nos avizinhando do telão. Já era quase hora do almoço, mas ninguém ali parecia ter pressa ou fome. O Robinho, maior do que todos nós, estava de pé ao meu lado, à minha direita, e quando eu virava o rosto, via seu queixo à altura de minha testa. Ele falava lento, quase sem mexer a boca.

“Olha isso, Marquim! Que gente corajosa… Tocando o avião pra cá, sem medo de nada.”

O Getúlio Figueiredo estava pontualmente ocupado por tropas de elite, prontas a negociar ou a tomar a aeronave de assalto, assessoradas por atiradores de precisão, posicionados nos telhados, nas lajes, nas muretas e nos rufos de toda a estrutura arquitetônica que emoldurava a pista de pouso e espaços abertos adjacentes. O avião permanecia ali, inerte, olhando para a frente, pousado com segurança, ainda trancado e sob controle do grupo, como um grande animal adormecido.

A sequestradora (que os locutores já chamavam de terrorista) passou a ler uma mensagem, usando o sistema de comunicação da cabine – ela também falava uma nórdica com inflexões das eslavas. Foram acionados robôs de tradução simultânea, e a transmissão teve início.

“Somos o RF, do condado de Resinsky, seção norte dos Países Altos. Não pretendemos ferir ninguém. Estamos realizando este ato para mostrar ao mundo a podridão dos líderes políticos de nossa nação. Solicitamos proteção e asilo político em seu país. Logo, os reféns serão libertados. Não haverá violência. O presidente Olaf Obstanski é sustentado por uma rede de mentiras que engana a maior parte da população, mas não a nós. Ele e seus aliados são traidores da nação. Usurpadores do dinheiro público. Bandidos de (nesse ponto, um sinal sonoro substituiu alguma palavra ou expressão que os tradutores automáticos não puderam identificar, talvez um vocábulo idiomático, pois a voz da ativista soava bem clara e bem articulada), que enriquecem em progressão geométrica, a olhos vistos. As redes de mentiras contratadas por eles fazem pensar que suas fortunas são formadas por outras fontes, heranças e espólios, o que não passa de uma grande farsa evidente. Não há tributação bastante para eles. As máfias locais e internacionais, principalmente estabelecidas nos países vizinhos ao nosso, também abocanham parcelas significativas de nossos cofres públicos, e alimentam redes organizadas de crimes os mais diversos, como trabalho escravo e análogo à escravidão, prostituição, tráfico de armas, tráfico de drogas e tráfico de seres humanos. Mesmo em tempos de crise econômica, altos índices de desemprego e famílias decaindo ao nível da miséria, essa apropriação criminosa do erário continua ativa, sem limites. Reivindicamos o início imediato de investigações sérias e isentas, com apoio de observadores internacionais. Reivindicamos ainda uma posição clara de seu país quanto às relações comerciais e diplomáticas com o nosso, considerando boicotes e bloqueios. Só assim serão desmascarados esses grandes parasitas da nação, esses canalhas sem escrúpulos, que se aproveitam da impunidade para perpetuar seus crimes e conservam, no mesmo nível, conscientemente, o sofrimento de nosso povo.”

A transmissão se encerrou. A porta lateral do avião se abriu, despertando um estado de alerta máximo nas tropas nacionais, e por ali foram saindo os passageiros, todos eles, de dois em dois, orientados pelo grupo a manterem a calma e o ritmo lento de seus passos enquanto desciam os degraus, rumo ao solo. Liberado o último refém, Gertrid foi a primeira a aparecer: vestido discreto, fechado, próprio de países frios, e lenço branco cobrindo os cabelos. Desceu alguns degraus com elegância, olhando firme para o espaço à frente, mão direita levantada, em sinal de rendição. Os outros vinham logo atrás dela: os homens, com as mãos atrás da cabeça, dedos cruzados na nuca, mostrando que se entregavam e que não portavam armas. A jovem morena, também com um lenço na cabeça, erguia as duas mãos para o alto, logo atrás dos rapazes. Essas imagens eram transmitidas por uma câmera de longo alcance, posicionada a uma considerável distância do jato pousado na pista principal, por isso só ouvíamos o som de estampidos abafados, duvidosos, quando Gertrid era atingida na lateral do rosto e caía escada abaixo, desastradamente, como uma boneca quebrada, sem rolar o corpo até o chão; seu lenço branco tornou-se vermelho. Os outros foram abatidos na sequência, tiros partindo ao mesmo tempo de muitos pontos invisíveis. Os corpos ficaram inertes, em posições aleatórias, desajeitados, acumulados, como se, um minuto antes, pudessem ter se abraçado de maneira apressada e desencontrada. A ação da polícia especial foi rápida. Os corpos foram recolhidos em macas dobráveis e retirados de cena apressadamente, não porque pretendessem salvar as vidas dos feridos (mortalmente feridos), mas justamente para fazer parecer que sim.

“Covardes! Fizeram um trato!”, exclamou o Hélio. “Eles se entregaram…”

“Esses caras da tropa especial não valem nada. São uns carrascos”, arrematou o Gabriel com seu rosto sempre igual.

“Meninos, eles cumprem ordens”, observou a Heleninha. “Alguém deu a ordem, e isso é o que mais importa saber.”

“Nosso país tem ótimas relações comerciais e diplomáticas com os Países Altos. O De Castro inclusive já declarou ser amigo pessoal do Obstanski. Será coincidência o grupo ter escolhido vir para cá?”

“Não sei. Eles se arriscaram muito, sabendo que temos acordos de extradição com os Países Altos. Se fossem deportados, provavelmente apodreceriam na cadeia, e ninguém falaria mais nisso.”

“Ou seriam executados. E ninguém falaria mais nisso.”

“Perfeito, meu caro Robinson. Mas eu acho que eles agiram na esperança de serem bem recebidos, com a possibilidade real da aceitação de um pedido de asilo político, contando com alguma espécie de gratidão geral por denunciarem algo de podre no reino do Mundo Livre.”

“Não, não acho que seriam tão ingênuos.”

Um porta-voz do Ministério da Defesa anunciou, de maneira enfática, quase triunfante, que o sequestro havia chegado ao fim, com os reféns ilesos e a salvo, tripulação e passageiros, em sua totalidade. Agradeceu a Deus e à competência das divisões militares que participaram brilhantemente da operação. O simpático De Castro não se pronunciou.

“Tadinha, Marco. Que moça valente. Eles não mereciam isso. Foram traídos. Foi uma trapaça.”

“Foi sim. Pediram asilo, poderiam ter sido acolhidos, mesmo que, a princípio, fossem presos. Mas isso (estou pensando agora) aumentaria o poder de comunicação deles, com as denúncias sobre a corrupção em seu país.”

“Nosso governo deveria, ao menos, tentar confirmar as denúncias.”

“Não, não. É justamente isso que  os representantes do governo não querem, Cleo. Correriam o risco de serem descobertos também, entende? De esse amplo esquema de corrupção do governo De Castro ser revelado também.”

“O quê? Que esquema? Corrupção? Aqui?!”

Tentei desviar o rumo da conversa, não percebi que tinha acabado de dizer o que disse, desastradamente.

“O que esses agentes do RF queriam era chamar a atenção, e conseguiram. Ler sua mensagem para o mundo. Ganhar espaço nas mídias. São ativistas políticos, não criminosos comuns. Provavelmente não pretendiam mesmo machucar ninguém. Nem houve negociação. Eles cumpriram o prometido: depois que a Gertrid leu a carta-denúncia, libertaram os reféns. E não ofereceram resistência.”

“Sim, eu vi isso, nós vimos isso tudo. Mas… que esquema é esse que você apontou? Anda pesquisando alguma coisa sobre essa pauta?”

“Não. Não sei. Eu só imagino que esquemas de corrupção, grandes ou pequenos, sempre funcionam em alguma esfera do governo. No país deles, pelo jeito, atingiram um nível tóxico, destrutivo para a sociedade local. Esses ativistas não são bandidos, mesmo que, vez ou outra, pratiquem algum ato de violência, como parte de sua luta. São agentes da ousadia humana. Da capacidade de nossa inteligência se superar.”

“Você acha? Mas eles também cometem crimes…”

Consegui me safar por pouco. Precisava ter mais cuidado comigo mesmo.

Voltei a perguntar sobre a possível e promissora entrevista com o professor Vendime, e falamos sobre isso e sobre outras coisas nossas.

Eu me preparava para o bombardeio de facultativas que viria quase instantaneamente após o fim do sequestro do voo da FWN. Sim, uma quantidade de frenéticas facultativas publicavam-se quase ao mesmo tempo, por meio de periódicos muito conhecidos e de periódicos desconhecidos, como o nosso, o que só alimentava minhas suspeitas sobre a intencionalidade de tais textos. Um deles mostrou os ativistas (terroristas!) como assassinos frios, que teriam, em seu país de origem, eliminado inúmeras pessoas inocentes – algo que ninguém, nem de longe, confirmou, nem mesmo a imprensa doméstica norte-europeia. Outro transcrevia um pronunciamento do primeiro-ministro dos Países Altos, repudiando aquelas mentiras absurdas sobre seu governo, “mentiras deploráveis, artificiais e com a única intenção de provocar desordem na nação”. (Este último não era bem uma facultativa, pois reproduzia, de fato, as palavras do líder indignado. Outras partes do mesmo texto, sim, distorciam a realidade, como o faria um talentoso contorcionista circense.)

Nem valia a pena continuar lendo tantos disparos histéricos da artilharia midiática contrária, manifestação intensa e prolixa de impérios que contra-atacam, tendo sido arranhados em sua credibilidade. Continuei fumando meu Green Forest com calma, como se nada daquilo me surpreendesse. No fundo, eu ainda me pegava surpreso. Alguma coisa como uma vasta rede de proteção unia, talvez, certos líderes de diversas nações. Ou a cúpula política toda de uma e outra nação. Enfim, isso eram divagações minhas. Havia algo que eu, só eu, secretamente, podia considerar sobre um ponto específico do episódio: a voz de Gertrid Noctburg, mesmo filtrada por um tradutor automático e transmitida por rádio, se parecia muito com a voz de minha informante do Café Silene. Mas não seria a voz, não seria propriamente a voz. O que remetia rapidamente a uma associação entre uma e outra era a maneira de falar. A clareza. As frases concisas. A objetividade. As pausas. Isso me fez pensar em afinidades e semelhanças. Nos perfis de certas personalidades. Nos pares que todos nós temos, em muitas partes do mundo.

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