Office in a Small City por Edward Hopper

Categoria: Conto

  • Sobre “Vencidos, uma questão de tempo”

    O conto “Vencidos, uma questão de tempo” trata de três jovens soldados encurralados em um apartamento semidestruído no que restou de uma cidade bombardeada. “Se vou morrer hoje, tudo bem, eu pensava. Só o que me trazia um incômodo nervosismo era imaginar como morreria. Um só daqueles mísseis, se atingisse o apartamento, se atingisse, digamos, o centro…


  • Doutor Diego

    Em minha missiva mais recente ao senhor D., um jovem cavalheiro que me parecia estar sofrendo ainda, como resultado das versões contraditórias sobre a perda de um seu ente mui querido, tentei persuadi-lo a encontrar-me, em função de que todo aquele imbróglio (talvez) mal-intencionado fosse esclarecido de vez. Meu caro senhor […] Caso te interesse…


  • Viagens

    “Tudo o que pudeste acumular com tuas mesquinhas armadilhas, teu dinheiro e bens, teu falso poder, extinguiu-se, desnecessário, tua fortuna hoje decai, esquartejada, numa comunhão de abutres. Tua imagem e teu nome fazem-se gradualmente apagados na memória dos tempos. Tudo o que eras dissolveu-se.” Desde que dera o último adeus a seu próprio corpo e…


  • Sonhos alados

    “Olhe”, disse a pomba, apontando a cascata. “As pedras cercam as águas que caem e modelam seu curso. Mas a espuma, sua parte mais pura, esta flutua acima das pedras, e desenha, com suas nuvens de gotículas, os mais belos arco-íris.” O canário observou a queda d’água e, num instante de claridade, concordou com o…


  • A canção de pedra

    Após muito pensar, considerando que vivia bem entre os seus e tinha a reciprocidade de sua amada, entendeu finalmente o que lhe faltava: a eternidade. Nasceram no mesmo dia, de famílias diferentes, numa região que a natureza ornou com colinas gramadas e regatos transparentes, duas crianças sadias, motivo de grande contentamento na comunidade dos pastores…


  • A grande árvore da vida

    Caminharam até que, das trevas que a tudo envolviam, emergiu a nebulosa imagem de uma porta de arco, solidamente incrustada num altíssimo paredão de pedra, do qual não se via o fim.Era como se um muro intransponível barrasse todo o outro lado do mundo. Aproximando-se, Henrique pôde ler o que se inscrevia no arco superior…


  • Gino (e a história resumida de sua estranha existência)

    Por mais que se tentasse ver o contrário, era inegável que o pequeno Gino possuía desde cedo um ar patético, além de cultivar hábitos estranhos, não bastassem as singularidades impostas pelo destino. Foi na granja Belaroba, próxima ao eterno rio e cercada pelo muro inalcançável, que nasceu um pinto raquítico, bico torto e cabeça grande,…


  • Sua canção de enganar (trecho)

    Texto apresentado no sarau da UEI (Sarau das tribos), julho 2019. Difícil é descobrir onde. É descobrir como. O que engendrou o erro, quando você parecia perto de possuir o mundo por causa de sua coragem. E por causa do amor. Parecia fácil. E o mundo, para cada um, sempre foi só até onde se…


  • Sete anos em Manhattan (trecho)

    Por vezes não sabemos por que fazemos algo.Mas um dia alguém descobre por nós. Encontrava-se ali, em minha casa moderna e espaçosa, esse velho e querido amigo, Robinson, desaparecido há tempos: desaparecidos nós dois, um para o outro, enquanto o tempo se deslocava entre chegadas, partidas e naufrágios. “Robinson, mal acredito que o estou vendo…


  • Inconsistência dos retratos, algo sobre

    Os textos que compõem esta coletânea datam do mesmo período em que surgiram aqueles que deram origem a Lisette Maris em seu endereço de inverno. Selecionados sob outro critério, não pretendiam (nem poderiam) caracterizar um volume conceitual, considerando-se sua diversidade temática e (nem tanto, afinal) estilística. Alguns destes contos assumem, no processo de sua narrativa,…


  • Relâmpagos (trecho)

    Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, Feira do Livro, Centro Cultural Palace, junho 2019. Quando penso em minha infância, vejo um menino atrás da vidraça numa noite tempestuosa – rosto sem sorrir, olhos iluminados por relâmpagos que o fascinam. O relâmpago cai das alturas, precedendo o estrondo que lhe corresponde, move a terra,…


  • As cinco estações (trecho)

    Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, junho 2019. Verão. Canção dos vaga-lumes E sua luz, sua breve luz. Duravam só o verão. Encantavam-me em criança, pedia a meu pai que os explicasse. “Por que vaga-lume, pai?” “Era caga-lume, virou vaga-lume.” Eu ria, pedia outra vez que recordasse a cantiga de atraí-los. Cantávamos juntos,…


  • Cores, sombras: aquarela de passagem (trecho)

    Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, maio 2019. Este conto é sobre um menino que pensa em desenhar e pintar para registrar seu universo, desde a infância, e que mais tarde se encontra com sua consciência a mostrar-lhe que o tempo, naturalmente, haverá de desmanchar tudo que um dia existiu. ………. Calçamentos de…


  • Em menos de vinte e quatro horas…

    Texto publicado na revista Ponto & Vírgula, n. 44, março/abril 2019. Em menos de vinte e quatro horas, dois colegas, separadamente, disseram algo sobre eu acabar sozinho no futuro. “Desse jeito, você vai acabar sozinho”, uma colega normalmente muito agitada, dela eu recordo cada palavra, fácil. Eu não respondia. Não me importo de ficar sozinho.…


  • Damares (trecho)

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, na Livraria Paraler, e no encontro de escritores promovido por Irene Coimbra, no Hotel Vilage Inn, março 2019. Parte da literatura trabalha com elementos mágicos, fantasiosos, surreais, uma tradição que remonta à Antiguidade, como nas narrativas de As mil e uma noites, e chega…


  • O final dos contos de fósseis (trecho)

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, fevereiro 2019. Não resisto, detenho-me diante da casa. Concretada a caixa de correspondência: não recebiam cartas, contas ou cartões os moradores que nos sucederam? Perturbam-me os grandes tipos do aviso (VENDE-SE), o rumor de vozes na sala. Subo os três (quatro, quem sabe?) degraus…


  • Meu gatinho Dedalus

    … tenho a impressão de já ter visto algo de branco entre as estrias, algo de cinza junto às orelhas… Esse amiguinho, de pelo ruivo, por vezes castanho (tenho a impressão de já ter visto algo de branco entre as estrias, algo de cinza junto às orelhas), ajeita-se na cama, ao meu lado, bom companheiro, enquanto…


  • O cavaleiro do século (trecho)

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, dezembro 2018. Todo este conforto hoje, porém tudo me inspira a surda sensação de um difícil desafio. Talvez a vida continue exigindo de mim novos sacrifícios, não sei quais nem de que tipo. Não sinto medo. Sofro com uma grande curiosidade. Os grandes atos…


  • O réquiem das crianças (trecho)

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, outubro 2018. Antonio Candido dizia que a literatura é o sonho acordado da civilização. Assim, quando criamos ficção, estamos recriando nossa realidade. Nenhum sonho é um sonho por si mesmo, ele sempre tem base no mundo real. Em nossa memória, as lembranças cristalizam-se, fossilizam-se,…


  • Tudo à flor da pele

    O que me obrigava a trabalhar por alguma coisa ou ser alguém, como todos? Que compromisso eu tinha com o resto dos homens? Podia pensar outra vez, o que era pior. Raciocínios banais ocorriam-me como revelações, tudo parecia do avesso. O que há sobre o mundo são os cérebros de hoje, que imaginam o passado.…


  • Documento antigo

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, agosto 2018. Por algum motivo, pus-me a rever um de meus fósseis mais pitorescos: a carteirinha de identificação que autorizava o uso de dois ônibus diários, com desconto, ida e volta ao colégio, um documento no qual se lia: PASSE DE ÔNIBUS ESCOLAR. Emblema…


  • Que momento é este?

    Esquinas conhecidas. Mesmo lugar, mesma pessoa. Experiência, dizem. Quando for velho, o que saberei? O que os velhos sabem? Nessa mesma tarde, pude pôr em prática minha atitude alternativa. Por que não teria coragem? Sou um homem ou uma melancia? Deu-se com uma daquelas garotas que ficam em determinados pontos do centro, prancheta à mão.…


  • Lauro e o monstro

    Tenho visto tantos desgraçados, tenho ouvido as mais terríveis histórias, conhecido os piores castigos. Rogaram-me mil pragas, amaldiçoaram-me muitas vezes com palavras e pedras, e fui ficando assim, obscuro. Tão logo Lauro se entregara ao transe, soube que teria de enfrentar o Inferno. O pressentimento de quem caía nos penhascos profundos da não consciência, porém…


  • Inconsistência dos retratos. Adicional

    Sete anos em Manhattan Eu havia reencontrado um amigo dos tempos de escola, numa livraria, mas ainda não fora esse episódio isolado, inicialmente desprovido de maior significado, o que deflagrou a ideia do conto. Em outro momento, fiquei pensando na vida de todos nós, filhos do capitalismo, das ilusões materiais e das ideologias que nos…


  • A conspiração dos felizes. Adicional

    A conspiração dos felizes (1989) surgiu de um impulso irresistível e pretendia ser apenas um conto. Surgiu a partir de um sonho que tive, daquela categoria de sonhos muito vívidos e nítidos, que na prática não transcorrem para além de alguns segundos quando recordados. Como sucedeu a Rimbaud em relação a sua obra poética, o…


  • Lisette Maris em seu endereço de inverno. Adicional

    Em Lisette Maris em seu endereço de inverno, a estratégia escolhida para transcrever o livro que o menino lê antes de dormir foi a de confundir, como se confunde a percepção dos sinais sob o peso do sono, as palavras, sua forma e seu significado. Espero que não haja também um traidor entre nós. Esses…


  • Sonho 3588. Prokofiev à porta

    Entenda, eu estava exausto. Era um momento de minha vida em que as coisas estavam perdendo todo o significado. O sonho é bem simples, Juan. Parece ser. Não sei. Uma conversa tranquila, sob as árvores lá da frente. Frente de casa. Prokofiev ali, ao portão. Calvo, óculos, olhos claros. Então, é aqui que você mora? Ele…


  • Sonho 3457. Acompanhando Camila

    Subitamente, fui tomado por uma impressão incômoda de que podiam ser os vestidos de três mulheres mortas. Talvez tivessem sido enterradas ali, sob o piso da sala, e inexplicavelmente teriam descido ao fundo da terra sem que lhes acompanhassem suas roupas. Eu voltava com ela de algum lugar, não sabia qual. Mas sabia que estávamos,…


  • Brincadeira com bichos

    O que achei de fato interessante foi o bicho escolhido, um escorpião. Achei interessante mesmo. E era um rapaz anêmico, olhos fundos, parecia doente. Sempre detestei ter de participar do que quer que fosse. Sempre mesmo, desde que me entendo por gente. Mesmo em criança, isso me parecia repulsivo. Tinha a impressão de ser forçado…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 7

    Às vezes torno a embriagar-me de esperanças Sentia-me tão bem que poderia rir de meus pesadelos. Falo sério. Embora eu pressentisse tal entusiasmo como transitório, pretendia vivê-lo o mais que pudesse, pelo maior tempo possível. O que pretendo com isso? Justificar, explicar alguma coisa? Absolutamente. Foi só um sonho que tive. Qual seria então a…


  • Como desviá-los de si mesmos?

    Como pode um ser humano de verdade submeter-se a semelhante tarefa? (Por extensão, perguntava-me o mesmo quanto aos jogadores. Por trás dos vidros da grande loja, o arranjo das incontáveis telas de TV, muitos aparelhos ligados ao mesmo tempo, multiplicando imagens de uma partida de vôlei que, evidentemente, não me interessava. Uma coisa dessas nunca…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 6

    Dias nítidos, claros pesadelos Eu mal podia afirmar se ainda sonhava ou não, se estava vivo. Em minha memória desenrolava-se outra vez o pesadelo do passado. Sou o que chamam uma mente atormentada. Não importa. Tenho tido dias difíceis, mas tem valido a pena. Acreditava em certas coisas que hoje sei falsas, mas não me…


  • Eu, onde estou?

    Um novo calafrio, dessa vez mais agudo. Isso também não importa. Nem o que me aconteceu ver e ouvir enquanto errava sem qualquer intenção por essas ruas. Eu observava tudo e não conseguia vislumbrar o que fosse importante. Nunca o suficiente. Pessoas por toda parte, homens com valises, funcionários uniformizados, estudantes e seus livros, qualquer…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 5

    Uma pergunta perigosa Ainda: não é a crença ou a descrença o que me impede de tentar morrer. Disse certa vez que não me suicidava por falta de fé, mas isso é ridículo, além de ser uma grossa mentira. “Ateus: não têm nem vergonha de dizer que são ateus…” Ora, não importam todas as histórias…


  • Eram eles os doentes, não eu

    Sentia-me perfeitamente lúcido, o que era admirável. De uma lucidez cristalina e reveladora, num dia tão cinzento. Talvez não fossem pensamentos, mas sensações. Tanto pior. Intuir a ilusão do real aniquila eventuais teorias fornecidas pela razão. Mesmo sem a febre, eu me sentia doente. Intuição, verdades sentidas. Para tentar definir tais sensações, é preciso vencer…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 4

    Panfletários, mas por quê? É preciso perguntar a todos os que vivem por que fazem tudo o que fazem. Eles, sem dúvida, terão respostas prontas, justificativas, pretextos. Eu não. O tempo passa, nem a vida é uma verdade. Assim como se olha ao passado, posso adivinhar minha vida no futuro, uma inconcebível ausência. Outras vidas estarão…


  • Em meio a tudo tão certo

    Talvez nada seja mais perigoso, mais forte que a indiferença. Sob a luz estranha de um prisma assim, até a noção de perigo perde seu significado. Saí para almoçar, desejando qualquer coisa que não se parecesse com meu dia. Mas esse dia estava em toda parte, meu dia era eu mesmo, não o dia. O…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 3

    O fato de estar vivo Tudo não passa de um exagero imaginativo, um sofisma de mau gosto. A morte é uma ideia abstrata e não pode ser considerada uma das faces desse todo. “Cara ou coroa?”, pergunta-me um deles, com uma moeda. Esse sujeito vive fazendo isso. Tem um marco alemão que ganhou ninguém se…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 2

    Pesadelos recorrentes Por que me acontecia sonhar coisas assim? Por que a morte não me dava tréguas? Cenas tão nítidas como as de meus pesadelos eram o que mais me causavam pânico, sendo tudo tão claro e cotidiano. Mais à frente, há um grupo de instrumentistas, música latino-americana típica. Estão sempre ali. Suas canções são…


  • Todos nós morreremos na semana que vem. Parte 1

    O idiota incurável Antes de prosseguir, quero deixar claro: a vida e a morte são o que mais me preocupa. Por quê? Ora, pois são apenas tudo. Sou o que chamam uma mente atormentada. Não que procure ser assim ou chamar atenção para isso. Ocorre que, após algum tempo de muitos dias lúcidos e situações…


  • Pós-escrito tardio (mas irresistível)

    Falei-lhe de Vanessa sem mencionar, intencionalmente, seu nome. Dei-lhe pistas, descrevi seu rosto e sua voz. Não, nada. Outra vez casualmente, num misto de milagre e diabólica coincidência, esbarrei em Copérnico mais de trinta anos depois. Custou-lhe reconhecer-me. Parecia alterado, confuso. Outros, os mesmos: estávamos ambos grisalhos – nele, a ligeira calva destacando os cabelos lisos. Quem…


  • Foi só um sonho ruim

    Minha viagem que continuava, sem autorização. Meu sonho se fazia por si mesmo. Meu sonho se alimentava da solidão em que eu me via. Meu sonho erguia-se no escuro. Como um monstro. Passada a evacuação que me havia exorcizado, eu me sentia a criatura mais desprezível de nosso país. Tive muita vergonha de mim mesmo.…


  • Sonho 3428. Viagem com Cris

    Penso, com uma tranquila certeza, que ela foi condenada. Depois, revendo seu sorriso de lábios presos, tenho outra certeza, a de que ela foi absolvida. Cris vai ser julgada. Eu a acompanho até o tribunal. Estamos em viagem num trem silencioso, com mínimas vibrações, mostrando que o comboio está em pleno trajeto, talvez em altíssima…


  • Quase uma conclusão

    Peguei-me a brincar que alguém me chamava da porta. Eu próprio criava as palavras, a entonação afetuosa de quem se preocupava comigo. Quando me vejo estirado num esquife e pronto a ser sepultado, entendo que não quero lutar por coisa nenhuma. No fundo, é o que sinto. Não quero fazer nada pelo meu país. Nem…


  • Sonho 3415. A barricada das assassinas

    Com essa visão terrível, o copo cai de minha mão. Sem ruído algum, nem mesmo um mínimo tilintar distante de cacos de vidro. No telejornal, a notícia de que as três assassinas estão em fuga. O apresentador agora pergunta a um especialista, sentado próximo a ele, no estúdio, se a surpreendente barricada que elas montaram…


  • Praguejando em silêncio

    Mas eles me viram e acenaram, os malditos, chamando-me pelo nome. Não imaginam o quanto me é difícil viver com o que sou. Quando cheguei ao bairro, após o salto espetacular que me havia projetado para fora daquela carroça sacolejante, eu já não podia fazer outra coisa senão correr, correr muito. Parecia um possesso. Aos…


  • A vida, sempre mais forte

    As portas se abriram com estrépito. Qualquer espécie de engrenagem ameaçadora, mas sempre, sempre inofensiva. Era ainda o meio da tarde. O metrô não muito lotado deu-me uma chance e um assento. À minha frente, uma mulher pobre, de seios grandes, feia mas de olhar bondoso, com seu bebê ao colo, contando à passageira ao…


  • Válido apenas para pequenas viagens

    Compreendi que os havia perdido para sempre. Que o meu passado havia se perdido para sempre.. Movido por um lapso de autocontrole, disfarcei (mal) meu nervosismo e fui me levantando desajeitadamente, pedindo-lhes licença e que aguardassem por um minuto, não saíssem dali, hein? – em tom de fazê-los achar muito engraçada essa brincadeira de não…


  • A tarde (e tudo o mais) pela metade

    Sei muito bem, Vina. De uma maneira ou de outra, ninguém sairá ileso de nenhum encontro humano. NOVO PLANO BENEFICIA MICROEMPRESAS Findo um regime de arbitrariedades, descobrimos, assombrados, que boa parte de toda a riqueza do país era, de alguma maneira e em proporções diferentes, enviada ao exterior, sem que alguém o pudesse denunciar. Os…


  • Hei de continuar fingindo sempre

    Tenho apenas minha morte como certeza. Uma vez aqui, tudo me atormenta e exige continuidade. Então, passou pela calçada uma família distraída e de bem com o dia. Os jovens pais levavam pelas mãos um casal de crianças pequenas. Um garotinho de óculos que se parecia comigo recordou-me drasticamente a infância. Sua irmã menor, também…