Office in a Small City por Edward Hopper

Autor: Perce Polegatto

  • Projeto esvanecendo-se. Seu perfume suave estranho novo

    Penso em deixar uma cadeira lá para me sentar e ler, mas tem chovido muito por esses dias.Coisas simples que me inspiram aconchego e uma gostosa solidão. Tarde fresca em abril, agradável. Brisas intermitentes. Ameaçava um vento, e logo se ia, em forma de sopro delicado entre as folhagens. Sei disso porque olhava pelos vidros…


  • Meu gatinho Dedalus

    … tenho a impressão de já ter visto algo de branco entre as estrias, algo de cinza junto às orelhas… Esse amiguinho, de pelo ruivo, por vezes castanho (tenho a impressão de já ter visto algo de branco entre as estrias, algo de cinza junto às orelhas), ajeita-se na cama, ao meu lado, bom companheiro, enquanto…


  • Projeto esvanecendo-se. Terça à tarde

    Não deve haver quem não se encante em encontrá-la assim, de frente, com esse sorriso indecifrável e esses olhos nórdicos… Parecia que, mesmo ao sol e à franca claridade dessa tarde, continuassem ativos os componentes de uma atmosfera densa entre neblinas. A Marjorie marcou com a Maga dia e hora em que ela me visse. Que…


  • O cavaleiro do século (trecho)

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, dezembro 2018. Todo este conforto hoje, porém tudo me inspira a surda sensação de um difícil desafio. Talvez a vida continue exigindo de mim novos sacrifícios, não sei quais nem de que tipo. Não sinto medo. Sofro com uma grande curiosidade. Os grandes atos…


  • Chora, menino (trecho)

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, novembro 2018. Correu à avó, como pedindo socorro, a um passo de irromper em prantos e em pânico, a garganta afogada, porque vira na televisão alguma coisa sobre esqueletos, ossadas humanas, nem se lembrava ao certo. Era um menino pequeno. Como ter certeza da…


  • O réquiem das crianças (trecho)

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, outubro 2018. Antonio Candido dizia que a literatura é o sonho acordado da civilização. Assim, quando criamos ficção, estamos recriando nossa realidade. Nenhum sonho é um sonho por si mesmo, ele sempre tem base no mundo real. Em nossa memória, as lembranças cristalizam-se, fossilizam-se,…


  • Tudo à flor da pele

    O que me obrigava a trabalhar por alguma coisa ou ser alguém, como todos? Que compromisso eu tinha com o resto dos homens? Podia pensar outra vez, o que era pior. Raciocínios banais ocorriam-me como revelações, tudo parecia do avesso. O que há sobre o mundo são os cérebros de hoje, que imaginam o passado.…


  • Documento antigo

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, agosto 2018. Por algum motivo, pus-me a rever um de meus fósseis mais pitorescos: a carteirinha de identificação que autorizava o uso de dois ônibus diários, com desconto, ida e volta ao colégio, um documento no qual se lia: PASSE DE ÔNIBUS ESCOLAR. Emblema…


  • Que momento é este?

    Esquinas conhecidas. Mesmo lugar, mesma pessoa. Experiência, dizem. Quando for velho, o que saberei? O que os velhos sabem? Nessa mesma tarde, pude pôr em prática minha atitude alternativa. Por que não teria coragem? Sou um homem ou uma melancia? Deu-se com uma daquelas garotas que ficam em determinados pontos do centro, prancheta à mão.…


  • Entre meias palavras e subtons

    … que acontecem Texto apresentado no sarau da Casa do Poeta, julho 2018. Logo em nosso primeiro encontro, contei a ela de como havia perdido o emprego. Sabia? Não, não sabia. É? Que chato. Não sabia. Que aconteceu? Eu me senti muito bem depois de lhe contar a história da minha agourenta demissão, de como fui conduzido…


  • Fantasias arruinadas de propósito

    Nem converso com essa gente do mais ou menos. Eu sempre espero mais. É difícil fazer uma lista dos piores filmes a que assisti, mesmo porque provavelmente isso ocuparia toda a edição de um jornal como este. Mas logo de minha infância salta-me à memória Pinóquio no espaço. Memória pouca, admito, quase nada me lembra…


  • Força bruta e sutilezas mais nocivas

    … que acontecem Texto apresentado no sarau promovido pela ARL, no SESI, junho 2018. E pensar que alguma vez sonhei casar-me com Vanessa, amá-la como ninguém mais pudesse fazê-lo em meu lugar, cego para com a evidente superioridade dos rapazes de seu meio, que naturalmente dispunham de mil vantagens e direitos sobre mim, isso sob…


  • Lauro e o monstro

    Tenho visto tantos desgraçados, tenho ouvido as mais terríveis histórias, conhecido os piores castigos. Rogaram-me mil pragas, amaldiçoaram-me muitas vezes com palavras e pedras, e fui ficando assim, obscuro. Tão logo Lauro se entregara ao transe, soube que teria de enfrentar o Inferno. O pressentimento de quem caía nos penhascos profundos da não consciência, porém…


  • Braile, chancelaria, onda dentro de um vidro

    … que acontecem Trechos de alguns contos apresentados no sarau da Casa do Poeta em 27 de maio último, no Centro Cultural Palace. No último degrau do pátio, o menino intui que as palavras se transformam, que se modificam conforme os olhos de quem as considera […]. Que viajam. E se deslocam entre os dias…


  • Colecionador involuntário

    … que acontecem Trecho de Projeto esvanecendo-se apresentado no sarau da Casa do Poeta em 5 de maio último. O que me oprimia no momento, entre obscuros impulsos de não querer, era minha antiga e nunca definida relação com os objetos. Mirando sem rumo um ou outro item por ali, senti mais uma vez aquele…


  • Projeto esvanecendo-se. Quase uma trégua

    Eu já tinha parado de falar, consciente de meu humor instável, propenso a declinar rapidamente. Como ela, fiquei olhando a praça, uma coisa e outra, disfarçando minha ansiedade. Em outra parte da praça, outra divisão do gramado a alguns metros dali, três canos enormes estendidos horizontalmente. Não eram canhões, claro, apenas partes deles – se não era…


  • Camões – Aquela triste e leda madrugada

    Não, Luís de Camões não dispensa apresentações: eu quero, sim, apresentá-lo a meu modo. Pessoalmente, não me interesso muito pela grandiloquência dos épicos, por isso meu Camões é principalmente o poeta lírico que marcou, com seu brilhantismo, a poesia de seu tempo, pós-medieval, pós-provençal, agora primando por um nível de excelência como não se via…


  • Cesar – Primeira lição

    Ana Cristina Cesar foi uma poeta representativa da chamada geração mimeógrafo. Mesmo tendo formação clássica e após um período de aprendizado em Londres, quando conheceu mais a fundo obras de suas predecessoras, como Emily Dickinson e Sylvia Plath, inclui-se na poesia marginal dos anos 1970. Ana cometeu suicídio ao atirar-se pela janela do apartamento de…


  • Projeto esvanecendo-se. À sombra de guerras extintas

    Uma primeira impressão de vulgaridade involuntária logo desaparece quando a gente olha bem para ela. E observa esses sentimentos quietos dela. Andamos juntos contornando a área central da praça. Diminuindo o passo quando próximos a um dos artefatos bélicos que servem como monumento por ali: a peça de artilharia antiaérea dos tempos da desgraçada Segunda…


  • Projeto esvanecendo-se. Mas foi também em um desses e-mails…

      Desde algum momento nós nos desejamos. E passamos a mover as peças. Adultos jogam jogos de adultos. ________________________________________ Assunto: te ver de novo Enviado em: 18/03/2005 | 14:08 De: <josieln24@altmail.com> Para: <pprof@altmail.com> quando vc vem? me fala.. preciso te ver acho q hoje vai chover. queria vc aqui com a chuva.. Comprei chocolate. bj…


  • Dobal – O mundo revivido

    Samuel Beckett declarava que a vida de um escritor não é importante, não tem nada de extraordinário, e o que conta é a sua obra. Até hoje tenho concordado com essa ideia. E isso apenas se reforça quando leio certos autores que conseguem tornar suas impressões da vida textos literários de atraente qualidade. Muitas vezes…


  • Projeto esvanecendo-se. Quase todo um reino adormecido

    Quando a carcaça do peixe bateu à praia era só uma curiosidade para os turistas, enquanto todos os heróis invisíveis do mundo somam um caldo espesso no ar, resistindo ao sufocamento. Apartamento da Josie, refúgio provisório. É o que pensa. Absurdo estar ali. Ela não sabe do que aconteceu com ele há poucos minutos, antes…


  • Diário contra o destino. Adicional

    Mosca/vidro A segunda estrofe sugere uma mosca indo e vindo, investindo contra uma linha imaginária à direita, batendo-se contra uma superfície sólida, porém invisível. Canção de ser Caminhando pelas ruas do centro velho, em minha cidade, percebi que aquele ambiente e o fato de eu estar sozinho inspiravam ideias literárias. Escrevi alguns poemas nascidos desses…


  • Inconsistência dos retratos. Adicional

    Sete anos em Manhattan Eu havia reencontrado um amigo dos tempos de escola, numa livraria, mas ainda não fora esse episódio isolado, inicialmente desprovido de maior significado, o que deflagrou a ideia do conto. Em outro momento, fiquei pensando na vida de todos nós, filhos do capitalismo, das ilusões materiais e das ideologias que nos…


  • Schiavo, Quinlan, Aurora

    Nos contos de fadas, podia-se dormir cem anos e voltar do coma. Dava para esperar pelo príncipe prometido e finalmente por seu beijo – e não era o beijo da morte. A esperança é a última que morre – porque os médicos ainda não puseram as mãos nela: ou a esperança estaria condicionada a algum…


  • Marcas de gentis predadores. Adicional

    O fato de Danilo reencontrar Verne, no final da narrativa, e não outros de seus antigos amigos, este que era visto como o mais ingênuo da turma, é significativo porque suaviza uma falsa situação de tormento. O caso Ana Lúcia deixa de ser o pesadelo que aparentava ser. Tudo se dilui […].  


  • A conspiração dos felizes. Adicional

    A conspiração dos felizes (1989) surgiu de um impulso irresistível e pretendia ser apenas um conto. Surgiu a partir de um sonho que tive, daquela categoria de sonhos muito vívidos e nítidos, que na prática não transcorrem para além de alguns segundos quando recordados. Como sucedeu a Rimbaud em relação a sua obra poética, o…


  • Os últimos dias de agosto. Adicional

    Nessa narrativa sobre uma crise pessoal que atravessa alguns meses e termina em agosto, o jovem personagem central, Júlio Dias, conversa com um interlocutor imaginário, a quem ele chama Augusto. “Dias”, porque ele é um homem comum, cotidiano. A sequência Júlio-Augusto sugere a sequência dos meses: julho-agosto. Com a chegada de Estela e o início…


  • Lisette Maris em seu endereço de inverno. Adicional

    Em Lisette Maris em seu endereço de inverno, a estratégia escolhida para transcrever o livro que o menino lê antes de dormir foi a de confundir, como se confunde a percepção dos sinais sob o peso do sono, as palavras, sua forma e seu significado. Espero que não haja também um traidor entre nós. Esses…


  • Projeto esvanecendo-se. Adicional.

    O ensaísta francês Joseph Joubert entendia que, para escrever bem, era preciso conciliar alguma facilidade natural com uma dificuldade adquirida. Isso se mostra rotineiramente no processo de criação literária. Alguns trechos partem de uma espontaneidade descritiva para depois encontrarem sua forma final, mais elaborada, e aqui se observam os sinais de dificuldade adquirida: voltar ao…


  • Projeto esvanecendo-se. O que ela faz durante o dia?

    Nossa civilização não está pronta para isso. E minha ociosidade não pode converter-se em frivolidade, algo assim sem rumo, não pode declinar à rendição. Pensei absurdamente em epitáfios. Epitáfios em meio às minhas corridas. Eu andava pelas partes conhecidas do bairro, conhecidas de mim mesmo, e então alguma carga de adrenalina forçava à aceleração, correr…


  • Projeto esvanecendo-se. Sonho com Josie na galeria

    Ela não reage. Seu rosto parece sem cor. Talvez esteja morta. Talvez seja apenas uma impressão, devida ao excesso de luz ambiente. O sonho, Juan. Sentada ao meu colo, sobre minhas pernas, de frente a mim, ela me beija fortemente, ao que correspondo com igual vontade, deliciado com esse privilégio. Estamos sobre uma mureta larga, de superfície…


  • Sonho 3588. Prokofiev à porta

    Entenda, eu estava exausto. Era um momento de minha vida em que as coisas estavam perdendo todo o significado. O sonho é bem simples, Juan. Parece ser. Não sei. Uma conversa tranquila, sob as árvores lá da frente. Frente de casa. Prokofiev ali, ao portão. Calvo, óculos, olhos claros. Então, é aqui que você mora? Ele…


  • Projeto esvanecendo-se. Maga

    Os boatos sobre um possível seu amante partiam, a meu ver, da necessidade daqueles que tentam enquadrar todos nós sob uma mesma perspectiva, estranhando que alguém ficasse sozinho por muito tempo. A Maga era Magali Lyngstad da Silveira. Descendente de família nórdica por parte de mãe, herdara dela uns olhos cinzentos, por vezes azuis esmaecidos esgazeados,…


  • Projeto esvanecendo-se. O anjo de ficar

    Mas isso da primeira vez que estive ali. Depois, era como se as paredes se deslocassem naturalmente ao meu redor, meus passos não pensavam mais, o espaço andava por mim. Primeira vez na Josie. A Joss Stone de meu agourento ano novo. Nos primeiros dias de 2005, ainda em janeiro, essa trilha de pólvora branca…


  • Projeto esvanecendo-se. Quando nós ainda…

    O que de fato contava era que ela acreditava em mim. Considerava meu potencial de entrelinhas meu bom humor involuntário minhas ironias benignas.  Eu e a Marjorie fomos felizes por um tempo, um bom tempo, claro que sim, eu me lembro. Unidos próximos cúmplices, compartilhando especificidades e caprichos entre aquelas coisas que-só-nós-mais-tínhamos, como certas canções…


  • Projeto esvanecendo-se. Os rapazes, os homens, a guerra

    Um mundo de mapas e guerras sempre foi traçado pela impetuosidade masculina, comunicação rudimentar, walk talk entre trincheiras, interconexão global, adivinhando objetivos semelhantes, voltando em busca de mais uísque, compartilhando sua reciprocidade evidente e seu corporativismo velado. E é assim, em grupos, que os homens planejam seus atos aniquiladores. 2001, uma terça-feira. No ar do…


  • Jacques Boucher de Perthes

    Um pioneiro da Pré-História Jacques Boucher (de Crèvecoeur) de Perthes (Rethel, 1788 – Abbeville, 1868) Arqueólogo francês, filho de um botânico de certa projeção no período napoleônico, ele inicialmente pretendia ser escritor, mas seus interesses eram amplos e diversificados. Em 1838, na região de Somme, norte da França, desenterrou machados grosseiramente moldados que, dada sua…


  • Projeto esvanecendo-se. As festas na Maga. Pequenos atrevimentos

    Eu sabia que algumas garotas ali não aprovavam a ideia, mas não protestaram. Afinal era uma festa. Nem sempre fazemos festas. Afinal éramos todos humanos. Afinal a vida exige momentos de descontração e de subversão entre os dias e as noites. Uma semana ociosa difícil opressiva. Eu me comunicava com a Josie por e-mail e…


  • Frutas, cores, pedidos de socorro

    Mayday, o pedido de socorro, em inglês, é uma forma corrompida do francês m’aider ou m’aidez, que significa “me ajude”. Nos tempos do telégrafo, era usado o S.O.S., uma sigla cujas letras em código Morse correspondiam a três pontos, três traços e três pontos. As cores das frutas e das flores exercem um efeito marcante…


  • Projeto esvanecendo-se. A primeira tarde de areia e mel

    Seu sorriso de covinhas parecia radiante dessa vez. Foi a primeira imagem que me afetou, o que primeiro me chamou a atenção, de olhos meus diretos em seu rosto. Fui à casa da Joss Stone. Eu começava a ser feliz. Parecia, sim, que começava a ser feliz, como disse. Era uma expectativa, uma impressão. Não…


  • Projeto esvanecendo-se. Dos primeiros dias inúteis

    Não queria ressentimentos. Não queria ficar assistindo a imagens do passado no cinetoscópio precário da memória. Caminhava e corria outra vez. Até a exaustão, que era boa, e voltava a caminhar tranquilo. Mas inquieto. Com medo do que me escapava. Do que eu não percebia. Por que minha condição atual não me exasperava? Meu fundo…


  • Projeto esvanecendo-se. Do que eu era

    De qualquer forma, minhas falas e aulas sempre produziam algum efeito. Eu via pelas expressões dos rostos, aparentemente neutras, mas provendo olhares atentos. Eu me orgulhava de minhas aulas quando conheci a Marjorie. Intuía, sem declarar a ninguém, que cada aluno representava a possibilidade de continuação das ideias inquietas interessantes contidas em minha mente. Sim,…


  • Projeto esvanecendo-se. Liberdade à força

    Mas não procurei nenhum deles. Não lhes enviei e-mails, não telefonei. Deixei que dezembro, com seus dias espessos, passasse. Minha vida agora era outra. A Marjorie saía para trabalhar. Eu ficava em casa o dia inteiro. Saía também, eventualmente, algum pequeno pretexto, comprar granola chocolate umas frutas pão de forma, tudo inventado. Afazeres, agora com tempo…


  • Coisas que ninguém viu nos contos de fadas

    Os pais deixam os filhos pequenos na floresta para que morram de fome. João e Maria conseguem voltar e, surpreendentemente, ainda amam os pais. Os pais, frustrados, tentam livrar-se deles de novo e desta vez conseguem: os pequenos realmente acabam perdidos. Depois de quase morrerem nas mãos de uma senhora solitária e louca, eles a…


  • Projeto esvanecendo-se. Pequena deusa simples

    Nada era estranho na Grécia antiga. Era outro mundo, as coisas eram outras coisas. Eles inventavam um monte de histórias, uma quantidade de deuses e deusas, e ninguém estranhava nada, era tudo lindo e assustador. Tatuagem na virilha direita. Borboletinha à qual deu um nome delicado e infantil. Uma palavra que, tanto quanto o endereço…


  • Projeto esvanecendo-se. Matéria básica e um resto de vinho

    Mas ninguém nunca escapou de ser humano. E isso significa vivenciar a matéria básica que nos compõe, com toda a força da realidade, a matéria que nos desafia com a vontade de seguir e nos constrange com a vontade de chorar. Diário digressivo. Aula tratando dos primeiros poemas medievais em nossa língua. Literatura. Tempo. Até…


  • Projeto esvanecendo-se. Casinha de gengibre e os ventos seguintes

    O rodo lhe servia como um cajado, um cetro. Deixou-se cair sentada, uma das mãos cobrindo o rosto enquanto chorava. Nos primeiros anos de casados, não tínhamos empregada doméstica. Nos fins de semana, dividíamos alguma faxina e tarefas que pediam nossa semana à frente. O apartamento era pequeno estreito contido, vivíamos apaixonados, e mesmo as…


  • Projeto esvanecendo-se. Nossa juventude em fatias de espaço-tempo

    Uma festa opaca e branda. Orientada por outra magia. A morte da Maga assinalou, para nós, o fim de uma era. Nosso espaço-tempo, em fatias. Tínhamos todos mais de trinta agora. E ela, sendo uma de nós, representava outra memória sobrevivente da década anterior, nossos vinte anos. Para além disso, uma menina acima do peso, distraída…


  • Projeto esvanecendo-se. O jardim do hoje

    O dia passava. Qualquer coisa que eu dissesse a mim mesmo não impediria o avanço das eras seguintes. Coco Chanel geralmente fica comigo quando vou mexer no jardim. Ela se distrai (ou se concentra, pode ser) perseguindo insetos e lagartixas, que lhe escapam com facilidade. Mas ela não se importa muito, logo se esquece desiste…